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Vice-reitoria para Assuntos Acadêmicos

Prêmios e Destaques Acadêmicos

Por Renata Ratton Assessora de Comunicação - Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos
Tese e artigo da Economia vencem prêmio Haralambos Simeonidis, o mais prestigioso da área
Desde 2003 (com exceção de 2014), pelo menos um aluno ou um professor do departamento foi vencedor

 

O Departamento de Economia foi agraciado, mais uma vez, com o prêmio Haralambos Simeonidis para o melhor artigo e a melhor tese de doutorado. Concedido pela Anpec, trata-se do mais prestigioso prêmio da área.

A pesquisa que deu origem ao artigo FX Interventions in Brazil: a Synthetic Control Approach, de autoria do professor Marcio Garcia, junto à ex-aluna de doutorado Laura Souza e ao economista Marcos Chamon, do FMI, é da área de Macroeconomia - Finanças Internacionais.

– O propósito foi verificar se um determinado tipo de intervenção cambial tem a capacidade de mexer na taxa de câmbio, dúvida recorrente em Economia porque há modelos teóricos dizendo que pode ou não pode mexer, além de estudos empíricos com ambas as conclusões. É uma questão aberta em Macroeconomia – explica o professor Marcio Garcia. Segundo ele, se comparadas à Medicina, as intervenções cambiais esterilizadas – o nome correto – são como um remédio que não se sabe se faz efeito ou não para uma doença.

 Professor Marcio Garcia é um dos autores do artigo vencedor, junto à ex-aluna de doutorado Laura Souza e ao economista Marcos Chamon, do FMI - foto: Renata Ratton / Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos 
Professor Marcio Garcia é um dos autores do artigo vencedor, junto à ex-aluna de doutorado Laura Souza e ao economista Marcos Chamon, do FMI - foto: Renata Ratton / Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos 

A modelagem descrita no artigo foi desenvolvida com base em um programa deflagrado pelo governo federal, em 2013, quando o então presidente do Banco Central americano, Ben Bernanke, fez um discurso famoso, no dia 22 de maio, em que insinuou que as medidas excepcionais ora tomadas – compra de vários títulos para possibilitar a recuperação da economia americana, e consequentemente, da economia mundial – talvez não fossem mais necessárias.

“Apesar da linguagem extremamente contida que ele utilizou, a mensagem criou um alvoroço total nos mercados, e todas as moedas de países emergentes começaram a depreciar, foi um rebuliço nos mercados chamados de ativos de risco, dentre os quais o da nossa moeda”, conta Marcio. E continua:

– Ao saber do discurso, o Banco Central brasileiro começou a realizar intervenções cambiais esterilizadas, mas o real continuava a depreciar. No dia 22 de agosto, então, o BC anunciou que realizaria o seguinte programa: venderia meio bilhão de dólares, de segunda a quinta, utilizando derivativos chamados swaps cambiais, e na sexta-feira faria um leilão de uma linha de crédito de US$1 bilhão para os bancos. Com o anúncio, imediatamente o real reverteu a tendência de depreciação, observa.

Segundo o professor, aparentemente, esse programa foi eficaz, mas também poderia ter sido mera coincidência entre a medida brasileira e o mercado internacional. Por isso, seria necessária a comparação com o contrafactual, ou seja, com o que teria acontecido com o real se o Brasil não tivesse intervindo? “Para isso, utilizamos uma técnica econométrica bastante complexa chamada coorte sintética: pegamos todos os outros países de que tínhamos dados (no caso, economias emergentes) e construímos um Brasil sintético, o Brasil sem a intervenção do BC. Utilizamos, ainda, uma outra técnica desenvolvida, por sinal, na dissertação vencedora desse mesmo prêmio, pelo aluno Ricardo Masini”, esclarece.

O Brasil sintético foi construído em comparação com as amostras de países emergentes, todos afetados pela depreciação cambial decorrente do discurso do presidente do Banco Central americano: foram utilizados dados da Austrália, do Chile, da Colômbia, da Índia, do Peru, da Turquia, da Indonésia, da Coréia, do México, da Malásia, da Nova Zelândia, das Filipinas, da Polônia, da Rússia, da África do Sul e da Tailândia.

O modelo Brasil sintético foi validado por apresentar a diferença na taxa de câmbio muito similar à encontrada em relação às moedas dos outros países no momento anterior ao anúncio. “Usamos dados de outros países para construir a taxa de câmbio do Brasil. A diferença entre o que de fato ocorreu e o que o modelo do Brasil sintético mostrou que teria ocorrido, sem a intervenção, tinha que ser pequena, o que, de fato, aconteceu. Após o anúncio, entretanto, os comportamentos teriam que ser bem diferentes, pois a medida do Brasil não ocorreu nos outros países (placebo). Fizemos o contrafactual para todos e constatamos que o câmbio brasileiro realmente apreciou com o anúncio, o real se valorizou”, sublinha.  

De acordo com o economista, o resultado fez muito sucesso porque, normalmente, quando se trata de questões macroeconômicas, como a taxa de câmbio, há uma infinidade de variáveis que as afetam, portanto sempre é possível pensar que algum fator não foi levado em conta:

– Nesse caso, temos um choque que afetou todo mundo porque a notícias dos Estados Unidos vêm do centro do sistema, e, em seguida, encontramos um país, que é o Brasil, que se comporta diferentemente de todos os outros, portanto se acredita bastante que a ação do Banco Central do Brasil, naquele momento, fez a diferença. Isso se chama identificação econométrica, quando se acredita que o efeito realmente veio daquela medida.  Creio que o valor do artigo esteja em ter usado uma técnica econométrica sofisticada, que não tinha sido usada nesse contexto – é uma técnica muito usada em Microeconomia Aplicada, mas não em Macroeconomia – e ter chegado a um resultado forte e convincente. Por isso, ele foi publicado na melhor revista de Economia Internacional, o Journal of International Economics, da Elsevier.

O professor destaca, ainda, que os resultados poderão ser utilizados, por exemplo, para orientar o Banco Central sobre quando e como intervir nos mercados cambiais. “Um dos resultados do paper mostra que as extensões do programa anunciado naquele 22 de agosto não surtiram o efeito do anúncio. Isso revela que o programa atende a um problema agudo, para intervenções pontuais em casos críticos, mas não serve para problemas crônicos da economia, quando o país não vai bem”.

Tese - Já a tese premiada Contributions to the Econometrics of Counterfactual Analysis, de autoria do ex-aluno de doutorado Ricardo Masini, sob a orientação do professor Marcelo Medeiros, consiste de três artigos sobre estimação de cenários contrafactuais, em situações onde não há um grupo de controle perfeito.

 Professor Marcelo Medeiros orientou a tese vencedora: nova metodologia para cálculo de contrafactuais - foto: arquivo pessoal
Professor Marcelo Medeiros orientou a tese vencedora: nova metodologia para cálculo de contrafactuais - foto: arquivo pessoal

A tese propõe um novo arcabouço teórico em Econometria para o cálculo de contrafacutais: "Em uma de suas aplicações, por exemplo, são medidos os efeitos que a adoção da Nota Fiscal Paulista teve na evolução da inflação de alimentos em São Paulo”, conta Marcelo.

O professor informa que a aplicação da metodologia ArCo (Artificial Counterfactual) poderá se dar em diversas áreas de Economia. "No caso usado, verificou-se que a adoção da nota havia aumentado a inflação para “alimentação fora de casa" em São Paulo”.

 

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Desde 2003 (com exceção de 2014), pelo menos um aluno ou um professor de Economia da PUC-Rio foi vencedor. Nesse período, seis teses de doutorado do Departamento foram agraciadas com o prêmio. Essas teses concorrem com todas as teses de doutorado escritas por um brasileiro, independentemente da instituição em que foi defendida (no Brasil ou no exterior).




Publicada em: 07/12/2017