Pesquisa, Desenvolvimento e Extensão
“Evoluir no uso das novas tecnologias de ensino, propiciando aos alunos um aprendizado mais agradável e eficiente”. A diretriz citada pelo Vice-Reitor para Assuntos Acadêmicos, professor José Ricardo Bergmann, em seu discurso de boas-vindas ao evento internacional MoodleMoot, reflete a política da Universidade de estímulo à adoção, por professores e alunos, das ferramentas digitais de informação e comunicação em sala de aula e fora dela.
No evento de abertura do MoodleMoot, aspectos cognitivos, educacionais e de regulamentação
foram abordados nas palestras do Vice-Reitor para Assuntos Acadêmicos, José Ricardo Bergmann,
das coordenadoras centrais de Graduação e Ensino a Distância, Daniela Vargas e Gilda Campos, e
do professor Ralph Bannell, da Educação - crédito: Fernanda Maia
O MoodleMoot, sediado, pela primeira vez, no Rio de Janeiro, e na PUC-Rio, trouxe membros da comunidade Moodle de todo o Brasil, além de seu criador, o australiano Martin Dougiamas, e é consequência do uso da plataforma pelo ambiente de aprendizagem online da PUC, permitindo integrar-se a um conjunto de grandes instituições de ensino e pesquisa do mundo, utilizadoras da tecnologia.
Em seguida à palestra de abertura do MoodleMoot, proferida por Martin, que enfatizou o poder dos educadores para melhorar o mundo com inovação, respeito e integração, a Coordenadora Central de Educação a Distância, professora Gilda Campos, tomou a palavra salientando a importância de se discutir as questões do uso do ambiente e de fazer com que as inovações no ensino adentrem, da melhor forma possível, tanto as universidades quanto o campo profissional.
O professor Ralph Bannell, do Departamento de Educação e estudioso do impacto dos processos cognitivos na aprendizagem, realizou uma breve exposição sobre os novos estudos da mente e da cognição humana – alguns com teorias revolucionárias como a da mente estendida, em que os processos cognitivos se dão além do cérebro e do corpo, incluindo os dispositivos conectados ao ser humano.
– Durante séculos, a gente pensou sobre a mente como algo interno ou restrito ao cérebro ou, na visão de Descartes, como algo vinculando o espírito ao cérebro, por meio da glândula pineal. A ideia de que a cognição humana acontece dentro de cada um de nós é uma metáfora muito forte na Modernidade porque o que aconteceu, naquela época, foi uma internalização de coisas antes consideradas externas ao indivíduo. A racionalidade humana era considerada, antes da Era Moderna, como algo do Cosmos – contextualizou o pesquisador.
Ralph observou que, nos séculos XVII e XVIII, a ideia da internalização chegou a tal ponto que, hoje, é senso comum que a mente está dentro da cabeça. “Entretanto, o que está acontecendo nos últimos trinta anos é uma revolução sobre tudo isso. Um conjunto de teorias sobre a cognição humana diz, em termos gerais, que ela não está reduzida ao cérebro e nem está, exclusivamente, dentro de cada um de nós”.
O pesquisador citou quatro teorias que estão desafiando a maneira de pensar sobre a mente e a cognição humanas, dando destaque à da mente estendida, para a qual corpo e ambiente são constitutivos dos processos cognitivos. ”O celular, por exemplo, não simplesmente apoiaria os processos cognitivos, mas faria parte da mente, literalmente. Tenho que dizer que é uma ideia controversa, nem sempre bem aceita, desenvolvida por dois filósofos, Andy Clark e David Chalmers, mas que ganha cada vez mais terreno”.
De acordo com Ralph, pode-se, então, pensar em algumas tecnologias como parte da cognição humana, as tecnologias cognitivas. “Desde sempre, o ser humano utilizou a tecnologia para aumentar suas capacidades. Um smartphone, hoje, faz parte de nossa memória. Um processador de palavras, como o Word, faz parte do processo de escrever. Um problema que as pessoas têm com essa ideia é achar que todas as tecnologias fariam parte da cognição humana; mas apenas o fazem quando se está conectado a elas. O limite é definido pela conexão. Somos cyborgs natos, sempre fomos. Estamos em uma época onde isso fica mais claro ou pode ser mais elaborado, o que nos leva as tecnologias de aprendizagem”, destacou o professor. Para ele, essas ideias são muito compatíveis com uma teoria do Socioconstrutivismo, em que o aprendizado deriva da interação social mediada pela linguagem:
– As tecnologias também podem operar como mediadoras e esses processos de mediação social serem estendidos para muito além de um lugar e de um espaço. E aí se pode repensar o tempo e o espaço de aula. Se estamos online o tempo todo, isso flexibiliza o trabalho de ensino-aprendizagem. Trabalhos em grupo, orientação individual, interação entre os alunos, participação do professor, todas as ferramentas propiciadas pelo Moodle são consistentes e coerentes com o Socioconstrutivismo. E acredito que, em vários sentidos, a tecnologia tem a capacidade de estender a mente humana e desenvolver formas de interação. Isso me interessa muito, pontuou o pesquisador.
A Coordenadora Central de Graduação, professora Daniela Vargas, relatou sua própria experiência externa à sala de aula, quando, às vezes, a interação é ainda maior. “Os professores estão sendo chamados a uma necessidade muito grande de interação. E se queremos engajar os alunos, vamos ter que nos engajar também. Não vai funcionar mais, na cabeça do aluno, estar conectado o tempo todo a amigos, parentes, colegas, e ter a aula limitada em espaço e tempo” , alertou.
Segundo a coordenadora, nota-se que os alunos pedem, cada vez mais, por uma personalização. “Eles apreciam, por exemplo, o fato de o professor ter elaborado um material específico para a aula, como um vídeo. E isso se reflete em motivação. Muitas vezes, em função de fatos do cotidiano, o tipo de interação também muda, mexendo, inclusive, na dinâmica do programa. É bem interessante esse novo olhar”, sublinhou.
Para Daniela, do ponto de vista institucional, é importante para a PUC, por meio da Coordenação Central de Educação a Distância, mostrar que é preciso fazer a transição da rede social para a profissional.
– Uma das questões que temos conversado, do ponto de vista regulatório, é a importância de se ter o registro desses momentos não presenciais, observando, inclusive, a equivalência das horas-aula, assim como a separação entre o que é a rede social não profissional e o uso de tecnologia para fins profissionais. A Universidade também tem o papel de guiar o aluno conectado na rede social nessa transição, mostrando que, à medida que se entra no mundo do trabalho, as relações vão ficando menos informais e até a própria linguagem vai mudando. Mostrar que há ferramentas e formas de lidar com a tecnologia e as redes em uma interação mais formal, cada espaço com sua especificidade. É um momento de transição para os professores também, em que vemos diferentes gerações participando e esbarrando nessas questões. Neste sentido, utilizar canais institucionais, como o Moodle da CCEAD PUC-Rio, é importante para identificar essa interação professor-aluno como espaço de aprendizado.
A professora Gilda Campos ressaltou a questão de as tecnologias de aprendizagem online apontarem para a necessidade de mudanças no currículo, não apenas pela discussão da equivalência das horas-aula, mas também da permanência do aluno e do professor no ambiente.
Ela reforçou, ainda, a importância da personalização das ferramentas utilizadas com os alunos no blended learning, a aprendizagem híbrida – online e presencial. “É importantíssimo lembrar a contribuição dos recursos e das ferramentas oferecidos pelo Moodle para o Socioconstrutivismo. Eu acredito, plenamente, que nossos processos cognitivos estão estendidos para nossos dispositivos”, sublinhou.
Cursos e palestras - Durante o encontro, professores da Universidade realizaram uma série de palestras, expondo suas experiências com o Moodle, e participaram das discussões voltadas a melhorias no ambiente, inclusive com o próprio criador, assim como da troca de experiências com outras instituições.
Nos dois dias de realização do MoodleMoot, as professoras Gianna Oliveira Roque, Ciléia Fioroti, Gleice Brito e Ana Luiza Portes, da equipe da CCEAD, ministraram um minicurso para auxiliar professores ou usuários, com permissão de edição, a compreender as principais funcionalidades do Moodle. Foram apresentados processos de criação de disciplinas e alocação de professores e alunos, disponibilização de conteúdo no ambiente, acompanhamento de notas e relatório de participação dos alunos, importação de dados, entre outras atividades.
As professoras Ana Luiza e Gleice demonstraram as diferentes possibilidades de utilização do questionário Moodle como uma ferramenta para a realização de provas, simulados ou testes online. Entre os destaques, o aumento à adesão ao ensino de línguas, por meio do nivelamento de idiomas a distância, desenvolvido para o Departamento de Letras. As provas elaboradas, inclusive em chinês, contam com cronômetro medindo e estabelecendo o tempo total de prova, mas podem ser iniciadas a qualquer momento pelo aluno, dentro de um determinado período de disponibilização.
Foram apresentadas, ainda, provas de seleção a distância desenvolvidas pela CCEAD para programas de pós-graduação da Química e da Engenharia Mecânica. Para a Química, por exemplo, foi feita uma programação de tempo de resposta para cada questão; já para os candidatos da Mecânica, havia a possibilidade de escolha da área de concentração da prova, bem como de submeter os cálculos efetuados enviando anexo. As professoras lembraram que as provas a distância, como parte do processo seletivo, facilitam bastante a participação de candidatos de outros estados e países na seleção inicial. Em seguida, mostraram uma prova simulada para o ENADE 2016, elaborada para o curso de Administração, e uma oficina para a prova da OAB, voltada aos alunos do curso de Direito.
Docentes da Universidade participaram ativamente do evento, ministrando palestras e seminários para a comunidade Moodle - crédito: Renata Ratton
Em sua palestra, o professor Renato Araujo, também da CCEAD, falou sobre as vantagens da utilização do Moodle em uma instituição de ensino, seja para cursos a distância ou para apoio às aulas presenciais. Renato enfocou a importância do apoio à solução de problemas não triviais, enfatizando a pertinência do uso pedagógico de ferramentas contextualizadas, dentro de um ambiente educacional. Teceu, ainda, um breve histórico da adoção das tecnologias educacionais na Universidade, que evoluíram de páginas simples da web (repositórios) para a interatividade, a interoperabilidade (integração de sistemas e atores) e, mais recentemente, para a personalização, onde se encontram possibilidades como a sala de aula invertida, a definição de trilhas de aprendizagem, o foco em competências.
Outras palestras envolvendo professores da PUC-Rio abordaram soluções personalizadas integradas ao Moodle PUC-Rio, uso do ambiente em disciplinas de empreendedorismo, conceitos básicos de Web Semântica, além de soluções de infraestrutura (velocidades, backbone, virtualização) utilizadas para prover escalabilidade, desempenho e confiabilidade às aplicações relacionadas ao Moodle.
Os coordenadores da Comunidade Moodle Brasil, que também organizaram o evento, professores Gilvan Marques, Gisele Brugger e Daniel Neis, apresentaram cases versando sobre boas práticas de uso da tecnologia, a exemplo de aplicativos para acesso por meio de dispositivos móveis, soluções para produção de conteúdos ricos e interativos, processos para testes de performance e aprimoramento tecnológico da plataforma.