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Pesquisa, Desenvolvimento e Extensão

Por Renata Ratton Assessora de Comunicação - Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos
Documentário Howie & os Outsiders, dirigido por Adriana Braga, da Comunicação Social, é lançado com participação, em tempo real, do sociólogo Howard Becker

Autor mais longevo da sociologia contemporânea, Howie é último remanescente da “mitológica” Escola de Chicago

À esquerda: A professora Adriana Braga, da Comunicação Social, dirigiu o documentário - Foto: divulgação; Ao centro: Howard Becker, ao vivo, durante o lançamento do filme - Foto: divulgação


O sociólogo americano Howard Becker, de 94 anos, participou ao vivo, pela plataforma Zoom, do lançamento do documentário Howie & os Outsiders, produzido em sua homenagem. Autor mais longevo da sociologia contemporânea, Becker é o último membro vivo da Escola Sociológica de Chicago. O lançamento foi realizado no dia 11 de novembro.

Dirigido pela professora Adriana Braga, do Departamento de Comunicação Social, com o apoio do CNPq e do Grupo de Pesquisa em Interações Digitais (GrID), o filme trata da influência de Chicago nos estudos de comunicação no Brasil e já havia sido premiado durante o Congresso ANPOCS 2022, no dia 14 de outubro.

– Desde quando os primeiros cursos de comunicação foram fundados no Brasil, nos anos 1940, a teoria dominante tem sido a teoria cibernética da Universidade de Columbia, para quem a comunicação é uma questão de transmissão de informação entre emissores e receptores. A teoria antropológica derivada da Escola de Chicago vê a comunicação como uma questão de interação entre pessoas, em que cada participante desempenha uma parte em um processo coletivo de produção de sentido. Há autores (Yves Winkin, por exemplo, entrevistado no filme) que denominam a teoria de Columbia como "transmissional" ou "telegráfica", e a de Chicago como "ritual" ou "orquestral", justamente por enfatizar a dimensão coletiva, de interação social envolvida em qualquer processo de comunicação, contextualiza a professora.

Howie & os Outsiders mistura jazz e sociologia, dois grandes aspectos da vida do autor. No clássico das ciências sociais Outsiders: Estudos da Sociologia do Desvio, Becker propõe ser o desvio social um fenômeno mais comum do que habitualmente se pensa e estar incorreta a sabedoria convencional segundo a qual os desviantes sociais são seres patológicos.

Para o autor, trata-se de participantes de um sistema de relações e interações constitutivo da própria vida social. Em caráter inovador, o sociólogo realizou uma investigação profunda a respeito de indivíduos que não seguem as regras e sua posição na sociedade considerada “normal”, mostrando que grupos qualificados como outsiders – a exemplo de consumidores de maconha ou músicos de jazz – produzem suas próprias regras e conceitos de normalidade. Durante o debate, o autor ponderou que Outsiders também pode ser usado como uma possibilidade sobre como a relação entre profissionais e clientes é regulada:

– Como ela funciona? Como ela acontece? Se eu precisar de uma banda de baile porque minha filha está se casando, como eu consigo uma banda? Onde estão as bandas? Sentadas esperando que pais orgulhosos venham contratá-las? Não, não é assim que funciona. Existe um mercado, existem tipos específicos de músico, eles precisam estar disponíveis, eles precisam se organizar etc. Isso é a Sociologia... Na minha pesquisa, eu não observei o que os músicos fazem, mas sim o que ‘aqueles’ músicos fizeram. A generalização aqui está na relação entre profissionais e seus clientes. Assim como falamos de músicos, podemos falar de médicos. Músicos vendem entretenimento e médicos vendem serviços médicos. É claro que vender serviços médicos traz uma reputação melhor do que tocar piano em bares, mas a categoria geral é a mesma: trabalho, explicou o sociólogo.

Howie e a comunicação – De acordo com Adriana Braga, o filme expressa a conjugação de competências e esforços do GrID e do LabMiD para aplicar uma perspectiva interdisciplinar em estudos e em práticas de relevo social. “A pesquisa buscou a integração entre produção midiática, pesquisa bibliográfica, documental, arquivos de imagem, formação técnico-científica, tecnologias de comunicação e oferta de conteúdos digitais livres para uma comunidade ampla, além dos ambientes acadêmicos”.

A produção do longa envolveu a realização de vasta pesquisa bibliográfica, a realização de entrevistas e de análises bibliométricas das linhagens teóricas decorrentes dessa abordagem no trabalho de pesquisadoras/es, em teses, dissertações, artigos, entrevistas publicadas, trabalhos em congressos e capítulos de livros. Inicialmente, de modo a organizar a produção coletiva de documentos, foi promovida uma formação em pesquisa documental e bibliográfica a estudantes participantes.

– Concomitantemente, estudantes envolvidas/os na produção das entrevistas realizaram treinamento em roteiro, condução, gravação, transcrição e edição das entrevistas em áudio e vídeo. Outra atividade desenvolvida no período consistiu na oferta de minicursos abertos e gratuitos em várias universidades brasileiras com o tema A Escola de Chicago e os Estudos de Comunicação: explorando as interações comunicativas, informa a professora.

As gravações de entrevistas ocorreram entre 2014 e 2018, com imagens originais gravadas em Paris (Télécom ParisTech e Le CNAM) Lisboa (Universidade NOVA de Lisboa), Chicago (University of Chicago) e Rio de Janeiro (PUC-Rio), ao som de Howie (como gosta de ser chamado) no piano e da participação especial da banda brasileira Pé Pequeno Jazz. A montagem, edição e finalização ocorreram em laboratórios e ilhas de edição da PUC-Rio, envolvendo dezenas de estudantes de Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado.

Além de Becker, o documentário conta com entrevistas de professoras/es e pesquisadoras/es renomadas/os como Rod Watson, Yves Winkin, Adriano D. Rodrigues, Celso Castro, Karina Kuschnir e Hermano Vianna. Para Braga, o filme vai servir como ferramenta pedagógica auxiliar na introdução dessa perspectiva teórica em centenas de universidades e faculdades de Comunicação Social no Brasil.

– Sobre o documentário, eu o considero um instrumento fundamental para a popularização da produção científica, divulgada através de outras mídias que não um artigo teórico de 15 páginas, que é publicado e lido apenas por cientistas da Comunicação. Os artigos continuarão sendo, de fato, escritos e publicados, mas eles não substituem o alcance midiático que um documentário pode ter ao oferecer, através da linguagem audiovisual, elementos que compõem um debate mais qualificado em sala de aula.




Publicada em: 18/11/2022