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Vice-reitoria para Assuntos Acadêmicos

Prêmios e Destaques Acadêmicos

Por Renata Ratton Assessora de Comunicação - Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos
Teses da Engenharia Civil e da História conquistam Prêmio Capes de Tese 2022

Tese de Artes&Design é agraciada com Menção Honrosa

João Ascenso abordou o movimento indígena na ditadura militar brasileira - foto: arquivo pessoal; Julio Alberto Rueda Cordero desenvolveu modelo que permite estudar o impacto de fraturas naturais de múltiplas escalas e orientações no desempenho do reservatório - Foto: arquivo pessoal; Larissa Averburg investigou a dinâmica criativa impulsionada por Lewis Carroll em suas aclamadas Alices - Foto: arquivo pessoal


Como uma revoada de pássaros: uma história do movimento indígena na ditadura militar brasileira, de autoria do aluno João Gabriel da Silva Ascenso, do Programa de Pós-Graduação em História Social da Cultura, e Fenômenos de falha e migração de fluido em formações rochosas naturalmente fraturadas, de autoria do aluno Julio Alberto Rueda Cordero, do Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, foram vencedoras do Prêmio Capes de Tese 2022, que teve resultado divulgado na tarde da última quinta-feira.

O prêmio, que este ano recebeu 1.266 inscrições, é voltado às 49 áreas de Avaliação da CAPES. Na segunda fase do concurso, do total de vencedores, três receberão o Grande Prêmio CAPES de Tese, um em cada Colégio: Ciências da Vida, Humanidades e Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinares. A premiação acontece em dezembro.

A avaliação para selecionar os vencedores leva em conta a originalidade, o caráter inovador e a relevância das teses para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social do País. Também são consideradas a qualidade e quantidade de publicações decorrentes da pesquisa, bem como a metodologia utilizada, a qualidade da redação e a estrutura e organização do texto.

Sob a orientação da professora Larissa Rosa Corrêa, a tese Como uma revoada... buscou analisar o conjunto de iniciativas e organizações que se articularam a partir de 1968, conformando o que se chamou de "movimento indígena brasileiro", no contexto em que a ditadura militar brasileira promovia um aumento da ofensiva contra os povos indígenas, notadamente aqueles que habitavam regiões da Amazônia Legal. Para tanto, segundo Ascenso, foi necessário investigar em que medida a ideia de um movimento indígena nesse período faz sentido, a partir de um diálogo com teóricos dos movimentos sociais.

– Propõe-se que pensar em um movimento indígena nesse contexto é plausível, desde que ele seja concebido como um conjunto de redes que inclui também não indígenas, ainda que com o horizonte expresso de construção de um protagonismo indígena. Além disso, considera-se importante, ao se pensar em uma política indígena, entendê-la como uma ação eminentemente diplomática e que incorpora a relação entre diversos mundos – humanos e não humanos. Trata-se, portanto, de uma cosmopolítica, esclarece o autor.

Durante aquele mesmo período, também ganhava destaque, tanto nacional quanto internacionalmente, uma série de discussões relativas à autodeterminação dos povos e à necessidade de se proteger não apenas a existência física dos povos indígenas, mas também sua existência cultural e simbólica, bem como seu direito às suas terras. Desse debate, participam cientistas sociais, sobretudo antropólogos, além de missionários religiosos afinados com a Teologia da Libertação e outros grupos. Foi nesse contexto que as primeiras assembleias de chefes indígenas começaram a ser organizadas, por iniciativa do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), a partir de 1974.

Dois modelos foram utilizados como categorias úteis à compreensão, respectivamente, da política indigenista do Estado e da política indígena levada a cabo (não exclusivamente) pelo movimento indígena a partir dos anos 1970: modelos de "política indigenista da pax colonial" e de "cosmopolítica da paz provisória". Os modelos são úteis na análise de diversos processos que dizem respeito ao movimento indígena brasileiro: a reunião das primeiras assembleias, a luta contra o Decreto da Emancipação, a presença de lideranças indígenas em eventos internacionais, a construção da União das Nações Indígenas, a participação na política institucional e a luta na Constituinte de 1987/88, por exemplo.

– Para essa análise, uma extensa gama de fontes documentais foi analisada, à luz da História Social e da Antropologia. Buscou-se, dessa forma, compreender as dinâmicas, conflitos de poder e disputas de narrativas, estratégias de mediação e diplomacia entre mundos que permitiram o enfrentamento entre a política indigenista da pax colonial e a cosmopolítica da paz provisória, as conquistas dessa segunda (materializadas na Constituição de 1988), bem como as permanências da primeira, com seus ecos ressoando até os dias de hoje.

Fenômenos de falha..., que teve a orientação da professora Deane Roehl, propôs modelos numéricos robustos para simular os fenômenos presentes nos problemas de propagação de fraturas e migração de fluidos em formações fraturadas.

De acordo com Cordero, uma técnica de fragmentação de malha com uma abordagem de zona poro-coesiva foi desenvolvida para simular a propagação não planar de fraturas em formações fraturadas. O modelo proposto permite estudar os efeitos dos parâmetros primários sobre a interação de fraturas hidráulicas e naturais. O trabalho desenvolve uma nova formulação hidromecânica 3D de dupla porosidade e dupla permeabilidade aprimorada para a representação mais realista do médio fraturado em simulações de reservatório.

– O modelo permite estudar o impacto de fraturas naturais de múltiplas escalas e orientações no desempenho do reservatório. Finalmente, o trabalho propõe uma nova metodologia que integra modelos robustos de propagação de fratura e simulação de reservatório, aprimorando a avaliação do desempenho da produção. Foram simulados múltiplos cenários de fraturamento hidráulico para avaliar a produção dos reservatórios. Também foram integrados modelos de fratura discreta e dupla porosidade-dupla permeabilidade para estudar os efeitos de fraturas de múltiplas escalas no reservatório estimulado hidraulicamente. Os modelos desenvolvidos foram comparados com testes experimentais, soluções analíticas e numéricas. Os resultados mostram excelente concordância e validam as formulações hidromecânicas. A partir dos resultados numéricos, se identificaram os parâmetros dominantes que influenciam o resultado do fraturamento hidráulico e a produção dos depósitos hidraulicamente estimulados, sublinhou o autor.

Além das duas teses premiadas, a tese Alice: uma dinâmica criativa irreversível, de autoria de Larissa Guimarães Averbug, sob a orientação da professora Luiza Novaes, recebeu Menção Honrosa do Prêmio Capes de Tese 2022. Com foco em processo criativo e transmidialidade, a pesquisa propôs investigar a dinâmica criativa irreversível impulsionada por Lewis Carroll, através de suas duas obras aclamadas, as Alices.

– Da era vitoriana à arte contemporânea, Wonderland e Looking-Glass se mantêm em devir, reinventadas nas mãos de artistas que, inspirados pelo universo do autor, mesclam realidade e ficção ao integrar a biografia à obra. O fenômeno cultural se torna transmidiático, não de maneira estratégica e centralizada, mas de forma orgânica e caótica, através de inúmeros produtores visuais dispersos no tempo e no espaço. Muitos desses produtores têm formação em design e, ao atuarem em áreas correlacionadas e mídias diversas – como ilustração, fotografia, arte, cinema e games –, parecem desenvolver uma atitude projetual criativa que os permite colaborar com o fenômeno cultural em expansão, explica a autora. Segundo Averbug, procurou-se identificar não só as convergências e divergências entre linguagens visuais e mídias, como o pensamento do produtor visual em seu fazer projetual, artístico e poético. Ao mapear exemplos da visualidade de Alice, a intenção foi a de delinear as características dessa dinâmica, que, através da repetição e dos desvios, permite à narrativa uma constante ressignificação:

– Acredita-se que, como obras abertas à iniciativa do leitor e do artista, as histórias nonsense contribuam como elementos catalizadores de novos processos criativos: na dinâmica de Alice, criam-se novas relações de autoria e coautoria, de produção, recepção e mediação. Fazendo reverberar, sobretudo, diferentes vozes interdisciplinares, a pesquisa buscou apresentar uma abordagem teórica, crítica e filosófica sobre questões da pós-modernidade presentes em Alice.




Publicada em: 12/08/2022