Pular para o conteúdo da página
Brasão da PUC-Rio

Vice-reitoria para Assuntos Acadêmicos

Pesquisa, Desenvolvimento e Extensão

Por Renata Ratton Assessora de Comunicação - Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos
Quem tem boca vai às redes

Pelo menos nas oficinas de redes sociais promovidas pela PUC-Rio para moradores da Rocinha, dentro de projeto interdisciplinar financiado pela Faperj e em parceria com o jornal Fala Roça e o Museu Sankofa

A equipe do projeto com as moradoras da favela participantes da primeira turma das oficinas - Foto: divulgação


Projeto interdisciplinar envolvendo os departamentos de Comunicação Social e de Serviço Social, o ECOA PUC-Rio, o jornal Fala Roça, e o Museu Sankofa Memória e História da Rocinha, vai dar voz, imagem e oportunidades prioritariamente às mulheres da favela da Rocinha. Fala pra Gente! Comunicadores Digitais da Rocinha foi um dos seis projetos da Universidade contemplados no edital do Programa Favela Inteligente em Apoio às Bases para o Parque de Inovação Social e Sustentável na Rocinha, promovido pela FAPERJ. Iniciou suas atividades no último dia 24, com a primeira turma da oficina de Instagram para a divulgação de negócios e projetos socioculturais na favela. 

Ao longo deste ano, serão realizados três ciclos formativos com mentoria e a geração de um banco de talentos da comunidade. Além das oficinas, está sendo produzida a websérie documental Fala Pra Gente, Rocinha – prevista para estrear no ECOA e nas redes sociais do Museu Sankofa no início de junho, e vai contar a história de lideranças femininas que inspiram outras mulheres a partir da atuação nos seus territórios. A escolha pelas mulheres como foco principal do projeto se deu a partir de reuniões com os articuladores locais. Tanto a equipe do Jornal Fala Roça quanto os integrantes do Museu Sankofa identificam que a atuação feminina é uma marca no cotidiano da favela, em que muitas famílias são sustentadas por mulheres.

– A mulher tem que enfrentar essas questões dentro de uma sociedade machista, conservadora e autoritária. E nós acreditamos que são as mulheres que hoje estão fazendo a diferença e precisam da maior lente de aumento em termos de investimentos e apoio – destaca a professora Nilza Rogéria Nunes, Coordenadora de Extensão do Departamento de Serviço Social.

A partir da pesquisa que Nunes vem desenvolvendo sobre lideranças femininas nas favelas, a websérie traz histórias de vida e militância de sete moradoras que, há anos, desenvolvem ações sociais e culturais na Rocinha: Talita Santos, do Grupo Semearte; Magda Gomes e Michelle Lacerda, do Coletivo A Rocinha Resiste; Selmita Soares, do Coletivo Tamo Junto Rocinha; Michele Silva, do jornal Fala Roça; Vera Lúcia Caldeira, da Rede Nacional de Comunidades Saudáveis; e Rita Smith (Ritinha), que trabalhou como agente comunitária de saúde e desenvolveu um grande trabalho de combate à tuberculose na favela.

Além de docentes dos quadros principal e complementar da Universidade, a produção do documentário e das oficinas envolve um projeto de extensão com a participação de alunos da graduação e da pós, alguns deles moradores da própria favela. De acordo com Tatiana Siciliano, Diretora do Departamento de Comunicação Social, o projeto quer provocar a troca de conhecimentos e experiências: “A gente pensa a comunicação em tudo. Não só a perspectiva da Rocinha e sua potência, mas a potência da PUC-Rio em diálogo com a Rocinha. É colocar em diálogo a troca, a parceria e o partilhar”, ressalta.

Mulheres da Rocinha contam suas histórias - Foto: divulgação

Com relação às oficinas, o primeiro ciclo formativo, voltado para pessoas que têm negócios locais, em especial as mulheres, será realizado até o dia 12 de julho, na Biblioteca Parque da Rocinha C4. Empreendedoras como a Jessika, de 33 anos, demonstraram vontade e necessidade de aprender:

– Sou mãe da Melissa que tem um ano. Eu trabalho com moda infantil para meninas. Dizem que nasce uma criança, nasce uma mãe empreendedora, e foi isso que aconteceu comigo. Eu tô gostando muito de trabalhar com roupa de criança, mas eu amo mesmo gastronomia e tenho projetos futuros nessa área, mas não quero deixar de trabalhar com roupa de criança. Não dá para estar em dois lugares, então o Instagram me ajudaria nisso. Eu sou muito antissocial na internet. Se você bota lá “que linda!”, eu já fico: “ai meu Deus! Será que curte? Será que bota oi?”. Pra vender hoje tem muita necessidade de mexer com internet, de saber mexer com rede social.

Já Luciana Nascimento, confeiteira da @bolu_mania20, conta com uma ajudinha especial:

Tenho 46 anos e uma filha de 12. Eu sempre trabalhei como operadora de caixa e pra mim a tecnologia sempre foi fantasma, eu tinha um medo muito grande. Hoje esse mundo da tecnologia tem avançado, e aí o que acontece? A gente tá aprendendo na marra, que foi o que aconteceu comigo. Depois que eu saí do comércio eu fui trabalhar de manicure e depiladora. Só que veio a pandemia, a gente tem que se reinventar, e hoje eu tô na confeitaria.  Eu só tinha o Face e não fazia essa divulgação, era só o boca a boca, e veio essa da gente ter que se reinventar. A tecnologia tá aí. Então eu tive que aprender na marra. Fiz meu Instagram sozinha. Tenho a minha filha de 12 anos que me ajuda. Consigo fazer story, reels ela que me ensinou, e quando eu não consigo, eu peço ajuda pra ela: “Giovana, como é que faz isso?” Mas aí sabe como é adolescente, né? “Ah, mãe, eu já te ensinei”.

Moradores da favela que atuam no mercado de fotografia, vídeo e redes sociais também realizarão aulas expositivas. Na fase seguinte, os alunos contarão com a mentoria de profissionais do mercado para avaliar o modo como aplicarão os conhecimentos adquiridos na oficina em seus perfis comerciais.

– Esse projeto tem um componente muito bacana, que tem origem nos projetos de inovação que a gente desenvolve na PUC, que é a cocriação. Cocriação a partir da interdisciplinaridade, cocriação através da mentoria e de aprender com os participantes das jornadas de trabalho. E outra característica extremamente importante é a experimentação. É trazer não só o conhecimento teórico, mas trazer também a experiência de colocar esse conhecimento na prática – avalia o professor Gustavo Robichez.

A previsão é que o segundo ciclo de oficinas seja voltado para ampliar a visibilidade de projetos culturais da favela mapeados pela equipe do Fala Roça. Já o perfil da terceira turma será definido de acordo com a demanda excedente dos ciclos anteriores.




Publicada em: 31/05/2022