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Vice-reitoria para Assuntos Acadêmicos

Prêmios e Destaques Acadêmicos

Por Renata Ratton Assessora de Comunicação - Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos
Pesquisa do Departamento de Educação é considerada a melhor do País, na área de Humanas, e recebe o Grande Prêmio Capes de Tese 2018

Estudo compara letramento científico de estudantes brasileiros e japoneses, a partir dos resultados do PISA

Andriele Muri recebe o Grande Prêmio Capes de Tese das mãos do presidente da Capes, Dr. Abilio Baeta Neves - Foto: arquivo pessoal


A tese Letramento Científico no Brasil e no Japão a partir dos resultados do Pisa, de autoria da ex-aluna da Educação Andriele Ferreira Muri, sob a orientação da professora Alicia Bonamino, do Departamento de Educação, e co-orientação do professor Tufi Machado Soares (UFJF), foi contemplada com o Grande Prêmio CAPES de Tese 2018. A cerimônia de entrega da premiação foi realizada no dia 13 de dezembro de 2018, em Brasília. O Grande Prêmio julga as teses defendidas em 2017 que já venceram o Prêmio Capes de Tese, cujo resultado foi divulgado em outubro.

– O diferencial do trabalho é a perspectiva comparada do ensino de Ciências em dois países que têm resultados muito diferenciados no PISA (sigla de Programme for International Student Assessment – Programa Internacional de Avaliação de Alunos). A motivação foi tentar entender se essa diferença tinha a ver com questões específicas dos testes ou se estava relacionada ao currículo do ensino de Ciências. Para nós, foi um reconhecimento da pesquisa em Educação, financiada com recursos públicos, e que pretende contribuir para o desenho de políticas na área de ensino de Ciências, sublinha Alicia Bonamino.

A autora Andriele Muri explica que a pesquisa procura responder se há diferenças de competência cognitiva em Ciências entre os alunos brasileiros e dos outros países, sobretudo os do Japão, no PISA; se existem itens do PISA 2006 que apresentam comportamento diferencial, tendo o Brasil como referência; e se é possível, a partir dos dados do exame e da adoção complementar de uma abordagem qualitativa, identificar diferentes ênfases curriculares e/ou práticas pedagógicas, no Ensino de Ciências de Brasil e Japão, que contribuam para a compreensão das diferenças de desempenho entre seus estudantes.

A vencedora junto à orientadora Alicia Bonamino - Foto: arquivo pessoal


– Para responder à primeira questão, foram comparados resultados do Brasil e do Japão nas edições 2006 e 2015 do PISA, em que o foco foi Ciências. O Brasil se mostra em situação de desvantagem em relação a quase todos os países que participaram do Programa, o que é em parte explicado pela repetência. Na escala de desempenho, o Brasil permanece no nível 1 e o Japão – no nível 3, em 2006 – passou para o nível 4 em 2015. Para responder à segunda questão, utilizamos a análise de Differential Item Functioning (DIF) nos itens da prova de Ciências de 2006 e concluímos que há grande presença de DIF nesses itens, comparativamente entre o Brasil e o Japão, observa Andriele.

Segundo ela, apesar de não serem capazes de comprometer o processo avaliativo privilegiando um grupo em detrimento do outro, esses itens sugerem diferentes ênfases curriculares em Ciências. “Levando em conta essa hipótese e para responder à terceira questão, adotamos uma abordagem qualitativa, com observação do uso do tempo das aulas; registro das ênfases curriculares e da ocorrência de atividades relacionadas à interação, investigação, experimentação e aplicação na perspectiva dos alunos, professores e da observação; e entrevistas com especialistas e gestores”, comenta.

Os resultados mostraram que mais de 20% do tempo oficial de aula, observados no Brasil, são desperdiçados com questões outras que não o ensino efetivo de Ciências; 10 vezes mais do que no Japão.

– No Brasil, há ênfase curricular mais acentuada nas Ciências Naturais e Biológicas. O currículo é distribuído mais homogeneamente no Japão e é seccionado no Brasil. Segundo os estudantes japoneses, não são frequentes as atividades de interação, investigação, experimentação e aplicação. As atividades mais recorrentes observadas e percebidas pelos professores japoneses são as de experimentação e interação; no Brasil, as de interação e aplicação, explica a pesquisadora.

Entrevistas realizadas com especialistas em Ensino de Ciências e gestoras do PISA, no Brasil e no Japão, mostraram que o sucesso do Japão nessa avaliação é associado à existência de um currículo nacional comum e à formação continuada de professores em serviço, bem como às reformas do sistema educacional japonês suscitadas pelos resultados do PISA. "O baixo desempenho dos estudantes brasileiros no PISA estaria, por sua vez, relacionado com o despreparo dos estudantes, com a falta de familiaridade destes com o teste, com a deficiente formação dos professores e com o limitado uso das evidências produzidas pelas avaliações em larga escala", esclarece Andriele.




Publicada em: 14/12/2018