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Vice-reitoria para Assuntos Acadêmicos

Prêmios e Destaques Acadêmicos

Por Renata Ratton Assessora de Comunicação - Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos
Uma luta histórica

Tese da Educação abordando o ensino da música no período de 1960 a 1975, em escolas de grau médio da Guanabara, recebe menção honrosa no Prêmio FRIPERJ-FAPERJ-IPP

À esquerda: trabalho de Vanessa Weber conquistou menção honrosa no Prêmio FRIPERJ-FAPERJ-IPP; à direita: Vanessa Weber (esq.) e sua orientadora Patricia Coelho, da Educação, na cerimônia de premiação realizada na Casa Firjan - Fotos: arquivo pessoal


A tese
Trabalho, Educação, Música e Arte: o ensino de música nas escolas públicas do Estado da Guanabara (1960 a 1975), de autoria de Vanessa Weber de Castro sob a orientação da professora Patrícia Coelho, do Departamento de Educação, recebeu menção honrosa no 1º Prêmio FRIPERJ-FAPERJ-IPP. A premiação é uma colaboração entre o Instituto Pereira Passos (IPP), autarquia da Prefeitura do Rio; o Fórum de Reitores das Instituições Públicas de Educação do Estado do Rio de Janeiro (Friperj) e a FAPERJ.

Considerando os contextos social e político por que passavam o Brasil e o Estado da Guanabara no período entre 1960 e 1975, o trabalho procurou entender como a visão de educação da época interferia ou não na presença da música nos currículos escolares das escolas de grau médio do Estado da Guanabara. Nesse período, foi implantada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e foi promovida a reforma educacional, através da Lei 5692/71, que substituiu a disciplina Canto Orfeônico pela disciplina Educação Artística, tornando o ensino de música opcional nas escolas brasileiras.

Sobre o trabalho e a importância da música na educação, a autora conversou com a assessoria de comunicação da Vice-reitoria para Assuntos Acadêmicos (Ensino e Pesquisa).

Assessoria de comunicação – VRAc: Qual foi a motivação do estudo?

Vanessa Weber: Quando me formei na Licenciatura em Música, li alguns estudos de história da educação musical que afirmavam que a Lei nº 5692/71 tinha tirado a música da escola. No entanto, anteriormente, havia conhecido uma professora de música no meu ensino médio - no Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro - que contava muitas histórias sobre as práticas musicais nas escolas públicas na década de 1970 e 1980. Isso me intrigava demais, e eu me perguntava: como ela conta histórias de concursos de corais escolares, de apresentações musicais diversas e práticas artísticas realizadas em uma época em que, segundo as pesquisas, não havia mais música nas escolas? Onde estavam essas vivências? Isso me levou a estudar o período acreditando que entender o que aconteceu ajudaria a entender a situação atual das lutas e resistências sobre o ensino de música.

A tese concluiu que o processo de exclusão da disciplina música do currículo se iniciou ainda nos 1960, e que os professores de Canto Orfeônico utilizaram diferentes estratégias de resistência a esse processo, mas não obtiveram sucesso. Ainda foi possível concluir que a música continua enfrentando dificuldades de consolidação e reconhecimento de sua importância no sistema educacional por parte da sociedade e dos próprios membros integrantes da escola.

ASCOm/VRAc: É possível se fazer um comparativo entre o tempo estudado e os dias atuais?

V.W: O período estudado foi um momento bem complicado para a educação musical, que gerou um movimento de resistência, especialmente por parte de professores de música, que sofreram com a repressão da ditadura militar. Esse movimento de resistência é constante, sendo que agora está ampliado pela atuação de músicos e membros da sociedade civil. Atualmente, a música está inserida no currículo da educação básica no âmbito da disciplina Artes, instituída pela LDB nº 9394/96. Na realidade, ainda não é o que entendemos como ideal pois acreditamos que todas as crianças deveriam ter aulas específicas de música, artes visuais, teatro e dança, mas já avançamos, pois essas linguagens podem ser abordadas de acordo com a formação própria do professor.

ASCOm/VRAc: Como a falta da música no currículo pode impactar a aprendizagem ou a socialização das crianças?

V.W - A música, por si só, é uma prática artística que desenvolve a musicalidade, a percepção, o senso estético e a capacidade auditiva e expressiva. Na escola, especialmente quando realizada em grupo, potencializa o trabalho coletivo, por meio do qual as crianças percebem como cada um é fundamental para o resultado final do grupo. Por meio da aula de música, as crianças têm a oportunidade de aprender a tocar um instrumento musical, a cantar e a se expressar por meio do som. Dessa forma, eles aprendem os elementos musicais ao mesmo tempo em que entendem a importância do trabalho colaborativo, da empatia e do altruísmo. Quando os sistemas escolares tiram a música dos seus currículos, eles privam as crianças e os jovens de viverem essas experiências.

ASCOm/VRAc: Como o estudo do passado pode contribuir para mudar essa realidade?

V.W - No campo educacional, estudar o passado nos permite conhecer práticas e experiências exitosas que podem ser novamente implementadas - respeitando as diferenças sociais e culturais de cada época -, bem como as reformas e práticas que falharam. "Novidades" são apresentadas como se nada antes tivesse sido feito... Os legisladores das políticas educacionais vivem inventando a roda, quando, na realidade, repetem-se experiências sem preocupação com o que já foi vivido anteriormente. Poderíamos otimizar muitas discussões, estudos e produções se valorizássemos mais a história da educação.

ASCOm/VRAc: Sobre o prêmio...

V.W - Receber a menção honrosa foi muito significativo, não só pela valorização do meu trabalho como também da história da educação musical e do próprio ensino de música na escola básica.




Publicada em: 23/01/2024