Pesquisa, Desenvolvimento e Extensão
Professor Hélder Eterno da Silveira, um dos responsáveis pela formatação do PIBID na Capes, foi o palestrante convidado para tratar do lugar da prática docente na formação do professor
Professor Hélder Eterno da Silveira falou sobre a prática docente na formação do professor - Foto: Catarina Kreischer - Projeto Comunicar
O VI Encontro Institucional do PIBID PUC-Rio e I Encontro Institucional da Residência Pedagógica teve como tema O Lugar da Prática Docente na Formação do Professor.
A Coordenadora de Licenciaturas da PUC-Rio, professora Maria Rita Passeri Salomão, abriu o evento lembrando que essa prática está presente nos currículos das diferentes licenciaturas, assim como em todas as discussões atuais sobre a formação do professor.
– Tanto o PIBID quanto a Residência Pedagógica abordam sua importância, um no sentido do incentivo à docência e a outra no incentivo da prática pedagógica. O PIBID vem tratando de temas voltados para a formação do professor. Já a RP, pioneira na PUC-Rio através do Departamento de Letras, incentiva a formação do professor e substitui o estágio supervisionado obrigatório do referido curso, esclareceu a coordenadora.
O Encontro Institucional trouxe como palestrante o professor Hélder Eterno da Silveira, Pró-Reitor de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Uberlândia, que, entre 2011 e 2015, atuou no cargo de Coordenador Geral de Programas de Valorização do Magistério da Capes, período em que o edital 11/2012 do PIBID passou a permitir a adesão das universidades privadas comunitárias sem fins lucrativos. Acompanhou a PUC-Rio desde o seu ingresso até o edital seguinte.
Em sua palestra Bases Epistemológicas da Política de Formação de Professores no Brasil: PIBID e Residência Pedagógica, Hélder alertou para os cuidados que se deve ter em torno da ideia de o professor ser um ser abstrato. “Nós somos reais, temos sentimentos, e é por isso que trabalhar na formação de professores, com a pessoa, com a identidade, com esse sujeito social que opta por ser docente, é uma função do campo da pedagogia, em qualquer licenciatura. Temos que nos identificar, somos pessoas humanas”, colocou. Enfatizou ainda a constituição da docência pelas relações afetivas, pelo reconhecimento da outra pessoa, do outro universo, do olhar:
– Às vezes, quando olhamos a história da educação brasileira, vemos que o professor precisou se revestir de uma capa que não refletia, necessariamente, nem a docência, nem a escola, a capa de ser intocável. Precisamos nos desconstruir. Escolhi a profissão de professor para também constituir laços sociais. A docência também se aprende, se trabalha, ponderou.
Citando Anísio Teixeira, lembrou que existe um desafio muito grande, especialmente à medida que a sociedade vai se tornando cada vez mais complexa, porque as relações se modificaram pela mediação tecnológica.
– Os professores precisam se olhar no espelho, se reconhecer enquanto universo. E precisam ter sensibilidade para com o universo do outro, e não fazer do universo do outro o seu universo. Se nos nivelarmos ao do estudante, perdemos a capacidade de gestão do tempo, do espaço da sala de aula; perdendo essa capacidade, vamos adoecendo de tal maneira que, inclusive, as nossas representações de mundo e o nosso modo de compreender a ciência passam a ser os mesmos do estudante. Se isso acontece, nós em nada vamos contribuir para o processo de desenvolvimento intelectual dentro da escola. Precisamos saber que o lugar do professor não é em um pedestal, mas também não está nivelado aos estudantes. Estamos numa atuação profissional, toda a nossa ação dentro da escola precisa ter uma personalidade pedagógica muito clara, inclusive no silenciamento. A personalidade pedagógica tem que fazer parte do conjunto daquilo que somos e fazemos.
Para o professor, a escola serve para que se possa compreender os diferentes mecanismos de transformação científica, tecnológica, material, social, cultural, artística e histórica do mundo.
– A formação sem didática é muito danosa porque mantém um ciclo vicioso em que se entende que o processo de dar aula é algo muito simples. O que determina a prática profissional, a ação docente são as concepções, os modos de pensar. E a coisa mais difícil num processo de formação de professores é chegar nesse modo de pensar. É necessário que se criem estratégias específicas para que esse sujeito se exponha, verbalize. É preciso organizar o processo de formação para que coloque o sujeito em estado permanente de fala, de crítica, de análise, de autocrítica, de reconstrução e de construção. Quando submetemos o processo de formação apenas ao processo transmissivo, é muito pequena a possibilidade de afetar e mudar as concepções para que gerem produção de práticas. A formação tem que preconizar que se trabalhe muito mais em círculos, que se discuta, que se traga casos reais, casos pedagógicos a serem debatidos, discutidos, refletidos, desconstruídos e reconstruídos. Para que os alunos não só entendam o significado dos marcos teóricos, mas que possamos, em outra perspectiva, encontrar o sentido da produção na prática. Essa nova produção da prática se aprende à medida que se submete o sujeito à ação. E o PIBID e a Residência Pedagógica estão fundamentados nessa abordagem.
O professor Hélder chamou a atenção para o que denominou desequilíbrio necessário: o desequilíbrio necessário para que se consiga identificar as concepções prévias e as formas convencionais de ação:
– Estamos apenas reproduzindo conteúdo? De que modo eu chego naqueles que são universos, e não pessoas que aprendem de qualquer modo? A abordagem e o método são filosóficos. A forma de chegar é a crítica, é o ir e vir no pensamento, na compreensão, na busca de sentidos, no desequilíbrio necessário. O PIBID deu certo porque ele reconhece a escola como lugar de conhecimento, a docência universitária e a docência da educação básica. Tem possibilitado o diálogo com as redes, a abertura das escolas, o diálogo permanente com a própria Capes.
Em seguida à palestra, foram realizadas duas mesas-redondas envolvendo representantes das escolas, licenciandos e professores da Universidade.
O projeto de Residência Pedagógica, além de apresentar uma exposição de trabalhos desenvolvidos pelos residentes nas três escolas parceiras do projeto – EM Christiano Hamann, EM Desembargador Oscar Tenório e EM Georg Pfisterer –, trouxe uma mesa específica coordenada pelas professoras Maria Cristina Góes e Beatriz Barreto, respectivamente, Coordenadora Institucional e Docente Orientadora do Programa de RP da PUC-Rio.
Durante o encontro foram expostos trabalhos realizados pelos núcleos do PIBID e da Residência Pedagógica - Fotos: Catarina Kreischer - Projeto Comunicar
A mesa intitulada O programa de RP na PUC-Rio: reflexos na formação de professores percorreu o caminho da implementação e execução do projeto por cada um dos três preceptores: a residente Clara dos Anjos narrou as experiências e práticas vivenciadas pelo grupo orientado pela professora Márcia Regina da Silva; as residentes Anna Carolina Gerbasi e Fernanda Carvalho mostraram o trabalho desenvolvido pelo grupo supervisionado pela professora Marina de Oliveira, e a residente Giovanna Corbucci apresentou as atividades criadas e realizadas pelo grupo do professor Diogo Andrade.
A mesa-redonda sobre o PIBID, O início da docência e a inserção profissional de seus egressos, coordenada pela professora Ana Paula Soares de Carvalho, foi dividida entre o PIBID atual (bolsistas de iniciação à docência por núcleos) e egressos do PIBID (por componentes curriculares – inglês, filosofia, séries iniciais do ensino fundamental, geografia e história). Seu objetivo foi apresentar o programa em seu novo formato, estruturado em núcleos: Filosofia/ História, Ciências Sociais /Geografia e Letras e Pedagogia e buscar egressos do PIBID que atuam em unidades escolares, na área da docência.