Prêmios e Destaques Acadêmicos
Tese do Departamento de Comunicação Social conquista Prêmio de Comunicação Papa Francisco, da CNBB
Padre Héliton Medeiros com o prêmio Papa Francisco - foto: acervo pessoal
A representação do capelão militar nos filmes de guerra: O Resgate do Soldado Ryan, Pearl Harbour, Paisà e A Grande Guerra, tese de autoria do padre e oficial capelão da Marinha do Brasil Héliton Marconi Dantas de Medeiros, obteve o primeiro lugar do Prêmio de Comunicação Papa Francisco, promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Orientado pela professora Vera Lúcia Follain de Figueiredo, do Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCOM), o trabalho fez uma análise inédita sobre a representação do capelão militar, enquanto personagem, nos filmes de guerra hollywoodianos O Resgate do Soldado Ryan e Pearl Harbor, e no filme autoral A Grande Guerra e Paisà. Para tanto, foram observados o percurso histórico do cinema, o seu uso como linguagem de comunicação e propaganda e as suas referências teóricas, que corroboram com a construção do personagem nos campos religioso e social.
A escolha do tema de pesquisa surgiu na Escola Naval, a partir de um questionamento feito por um dos aspirantes a oficial da Marinha sobre a presença e a importância do capelão na vida dos militares em tempo de paz ou de guerra. Após a indagação, padre Héliton começou a refletir e percebeu ser possível falar do capelão em tempos de paz, tendo em vista o contexto do nosso país, e no cenário de guerra, por meio das narrativas literárias e cinematográficas.
– Embora o capelão desenvolva um notável trabalho no campo sociorreligioso, há um déficit de conhecimento sobre sua missão e atividades junto às instituições militares e religiosas. Nosso estudo proporciona certa visibilidade e notoriedade ao capelão militar, tendo como referência uma leitura crítica de filmes bélicos. A pesquisa, realizada no campo da comunicação cinematográfica, de modo particular nas narrativas fílmicas, teve por objetivo extrair, agregar e justificar – de forma direta – os principais temas presentes nas imagens, nos textos e nos sons das cenas em que o personagem do capelão militar se enquadra, e – de forma indireta –, os elementos que fazem referência à sua missão institucional agregada ao campo religioso em que está imerso como oficial do culto – reflete o autor.
A pesquisa enumera, sobretudo a partir da análise de conteúdo, as virtudes, as qualidades, os defeitos, os vícios, os estereótipos e os clichês, bem como as expressões gestuais e verbais que caracterizam e alimentam o imaginário da construção do capelão no mundo cinematográfico. "Os elementos presentes nas representações dos capelães militares evidenciam sobremaneira o poder simbólico que o personagem exerce, tanto no campo religioso quanto no campo militar, social e político", observa.
Para Medeiros, resguardado o rigor acadêmico, a análise da pesquisa teve um olhar de dentro, tendo em vista ser ele próprio um capelão naval. Contudo, o interesse pela temática se fortaleceu pela relevância e pelo conhecimento que o estudo poderá trazer para o acervo histórico-cultural dos ordinariatos militares presentes em vários países, e pela possibilidade de despertar, na formação dos capelães navais, a importância da construção social do ecumenismo e diálogo inter-religioso, dos valores humanos e patrióticos e da relação entre Igreja e Estado.
– A pesquisa procurou abordar os principais aspectos doutrinários, humanos e espirituais que delineiam a construção do personagem, a partir de alguns pensadores da história e de suas visões acerca do conceito de guerra justa, do uso do cinema como instrumento de persuasão, da fundamentação do conceito de campo religioso e das teorias que contribuem com o processo de construção do personagem fílmico. Ao final, percebemos que o cinema, além de propor uma releitura da história, traz o passado para o presente para ser visto e refletido, ressaltando que a guerra destrói vidas, sonhos e famílias, e nunca será uma guerra justa, assim como descreve, nas entrelinhas do presente, as suas visões proféticas como temas voltados ao ecumenismo, ao diálogo inter-religioso e à resiliência.
O padre também destaca que, embora os filmes de guerra tenham uma áurea de violência, morte, dor e sofrimento, o recorte do ponto de vista do capelão militar trouxe à tona a presença do fenômeno religioso, que possibilitou perceber a riqueza de informações que realçam os valores humanos e religiosos que se contrapõem aos da guerra.
– Com isso, percebeu-se que as cenas e as narrativas do campo religioso foram potencializadas e enriquecidas pelo simbolismo do imaginário presente no personagem capelão militar – sua 'aura' tem sido replicada por meio das suas falas, gestos, ações secundárias do seu personagem e das situações periféricas. Ficou nítido que o poder simbólico que reveste e personifica o capelão militar é tão marcante que, às vezes, causa confusão no próprio espectador, como no filme Até o Último Homem, de Mel Gibson, em que seu personagem principal é confundido com um capelão militar devido às suas ações e atitudes. Na verdade, o personagem retratado nesse filme não é um capelão militar, mas sim um médico que se torna um objetor de consciência, explica.
De acordo com o autor, a pesquisa ressaltou a postura da Igreja Católica que, através da sua Doutrina Social e dos pronunciamentos dos papas, entre eles João Paulo II, Bento XVI e Francisco, tem feito um forte apelo pela paz e pelo fim da violência e das guerras: 'calem-se as armas'. "No entanto, ao reconhecer as dificuldades e as tensões políticas que o mundo enfrenta, a Igreja Católica tem a plena consciência de que não se pode mais falar de 'guerra justa', pois a guerra nunca será justa, embora reconheça que é justa a defesa de um país". Ao receber a notícia de ter sido contemplado com o Prêmio de Comunicação da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), categoria Papa Francisco – que abrange os trabalhos acadêmicos – padre Héliton Medeiros se disse agradecido pelo reconhecimento lembrando que o prêmio representa um estímulo para todos os sacerdotes e capelães militares, que devem ter a consciência de que sua missão perpassa o campo da teologia e deve dialogar com as diversas áreas do conhecimento, em seu caso, a comunicação.
– As reflexões propostas no estudo poderão servir e contribuir de forma significativa para a realização dos trabalhos desenvolvidos pelos capelães no Serviço da Assistência Religiosa das Forças Armadas e pelos programas formativos do Ordinariado Militar do Brasil e de outros países. De certo, o sentido mais profundo que abrange a missão de ser um capelão militar é compreender, antes de tudo, que se está diante de duas realidades distintas – o capelão militar e o ministro religioso civil –, mas que seguem o mesmo propósito de servir a Deus e ao próximo.