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Vice-reitoria para Assuntos Acadêmicos

Prêmios e Destaques Acadêmicos

Por Renata Ratton Assessora de Comunicação - Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos
Tese de doutorado do Programa de Pós-graduação em Comunicação recebe Oscar dos Quadrinhos

Pesquisa se debruçou no estudo de histórias em quadrinhos da revista ilustrada para crianças O Tico-Tico

Miguel Mendes com os troféus e sua orientadora, a professora Tatiana Siciliano, do Departamento de Comunicação - Foto: acervo pessoal


Alfredo Storni e seu Zé Macaco: a pedagogia da subjetividade moderna nas historietas de O Tico-Tico, do aluno Miguel Geraldo Mendes Reis, Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM), recebeu o prêmio de melhor tese sobre quadrinhos no concurso promovido pelo HQ Mix, o Oscar dos quadrinhos do Brasil.

O troféu foi criado em 1988 pelos cartunistas Jal e Gual, com a finalidade de premiar e divulgar a produção de histórias em quadrinhos, cartuns, charges e as artes gráficas como um todo no Brasil. A cada ano são escolhidos, por meio de votação, os que mais se destacaram entre as várias categorias que compõem a premiação.

– Esse concurso já tem muitos anos (esta foi a 34.a edição) e premia desenhistas, roteiristas, arte-finalistas, coloristas e publicações de diversos tipos no setor de quadrinhos. Enquanto esses prêmios são resultado de uma votação de representantes da comunidade dos quadrinistas, editores e críticos, os três prêmios acadêmicos (tese, dissertação e TCC) são concedidos por uma banca de doutores que analisa os trabalhos inscritos no ano anterior, observa o autor.

A pesquisa, que teve orientação da professora Tatiana Oliveira Siciliano, se debruçou no estudo de histórias em quadrinhos da revista ilustrada para crianças O Tico-Tico (1905 – 1962). O recorte foi a série Aventuras de Zé Macaco e Faustina, de autoria do caricaturista Alfredo Storni, no período de 1909 a 1922:

– Como eu sou profissional do setor de revistas infantis (trabalhei junto ao Ziraldo e atualmente escrevo para revistas da Turma da Mônica), tenho desenvolvido minha formação acadêmica com interesse na produção desse tipo de histórias em quadrinhos, cômica e voltada para público infanto-juvenil. Por isso, eu e minha orientadora decidimos estudar a publicação que inaugura esse campo no Brasil, a revista semanal O Tico-Tico, observa o autor. Para o estudo, todas as histórias do recorte foram lidas e geraram uma tabela analítica, que permitiu uma análise interpretativa do conteúdo balizada pelo estudo do campo profissional dos caricaturistas e seu habitus.

– No início do século XX, vários caricaturistas vindos da imprensa satírica estavam produzindo histórias em quadrinhos para essa revista infantil, que tinha propósitos educativos e civilizadores afinados com o projeto do regime político republicano, que ainda era novo. A publicação tem muito conteúdo e ainda é pouco explorada pelos pesquisadores. Tinha matrizes estrangeiras, mas as contrabalançou com invenções dos caricaturistas brasileiros e algumas representações do ambiente e personagens locais. Um dos assuntos das minhas pesquisas é o papel das narrativas publicadas em periódicos no desenvolvimento do que seria considerado o modo de ser moderno e civilizado. Assim, em meio a tantas obras seriadas, veiculadas pela revista O Tico-Tico, decidimos estudar a fundo a do caricaturista Alfredo Storni, que criou uma família de personagens cômicos formada por Zé Macaco, Faustina, Baratinha e Chocolate, e produziu historietas em quadrinhos com eles, com algumas interrupções, desde 1909 até 1950. Assim, retratou costumes da classe média em ascensão no século XX – esclarece.

De acordo com Mendes, ao mesmo tempo em que era crítico do comportamento imitador, de consumir e experimentar tudo que estivesse em moda, Storni divulgava para os jovens leitores espalhados pelo Brasil como era a vida burguesa na capital federal (o Rio de Janeiro recém-reformado). Pela lente do humor grotesco, gestado nos trabalhos de charge para publicações satíricas, Alfredo Storni representava o difícil processo de assimilação das novidades materiais importadas e impostas pelo regime por parte da sociedade da capital.

– Todo novo hábito de consumo e toda nova experiência distintiva surgiam para impulsionar um pouco mais os indivíduos na direção de comportamento mais moderno e mais civilizado, para bem ou para mal. Na pesquisa, foi possível associar esse caráter das historietas de Storni ao modo como ele conduziu sua carreira, que representava um entre alguns caminhos que os caricaturistas dessa época trilhavam, inclusive cruzando caminhos uns com os outros. Chegamos a sugerir que, em paralelo com famosas obras de eruditos, as historietas de Zé Macaco produzem um retrato caricatural da sociedade brasileira, um relato perspicaz sobre suas fragilidades e forças. A pesquisa lança um pouco de luz na obra desse artista do traço que, hoje, está praticamente esquecido.

Anteriormente, o aluno já havia recebido o troféu HQ Mix pela melhor dissertação de mestrado, publicada em 2016: Tudo que o cidadão deve saber: as cartilhas no processo civilizador, também orientada pela professora Tatiana Siciliano.

O troféu deste ano representa uma personagem de tirinhas de quadrinhos de jornal inventada pela ativista, jornalista e escritora modernista Patrícia Galvão, a Pagu. A moça rebelde se chama Kabeluda. É uma menção ao centenário da Semana de 1922. Informações gerais sobre essa premiação você encontra no site https://hqmix.com.br




Publicada em: 12/12/2022