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Brasão da PUC-Rio

Vice-reitoria para Assuntos Acadêmicos

Ensino, Pesquisa e Desenvolvimento

Por Renata Ratton Assessora de Comunicação - Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos
Professor James Green, um dos grandes nomes presentes ao congresso da Brazilian Association Studies (BRASA), faz balanço do encontro e fala sobre trajetória da instituição
Em sua opinião, discussão sobre raça, identidade e ação afirmativa foi destaque nos debates

O professor James Green e a professora Angela Paiva, na sede da CCCI: livro lançado e sucesso na realização do XIV Congresso da BRASA - foto: Renata Ratton/Vrac


Apaixonado pelo Brasil e brasilianista internacionalmente reconhecido, o professor norte-americano James N. Green, da Brown University, foi um dos grandes nomes presentes ao XIV Congresso da Brazilian Studies Association (BRASA), realizado na PUC-Rio na última semana de julho, sob a organização da Coordenação Central de Cooperação Internacional.

Green se envolveu com a história do país ainda nos tempos da ditadura, quando participou, nos Estados Unidos, de manifestos contra o domínio militar. O episódio deu início a uma longa trajetória de vivências, pesquisas e projetos do historiador – fundador do movimento LGBT em São Paulo - que lançou seu 11º livro relacionado ao Brasil durante o congresso da BRASA: Revolucionário e gay: a extraordinária vida de Herbert Daniel – pioneiro na luta pela democracia, diversidade e inclusão (Ed. Civilização Brasileira).

Ex-presidente da associação, e atual diretor executivo, o professor falou sobre o encontro e a associação para a assessoria de comunicação da Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos.

Ascom/Vrac: Qual o balanço que você faz do XIV congresso da Brazilian Studies Association?

James Green: Tivemos 650 inscritos e credito o sucesso à excelente organização da PUC, que conquista, cada vez mais, visibilidade internacional. Um terço dos participantes foram norte-americanos e dois terços brasileiros, o que, para nós americanos, é muito importante já que sempre queremos incentivar um diálogo entre os norte-americanos que estudam o Brasil e os brasileiros que estudam o Brasil.

Ascom/Vrac: Quais foram as pesquisas e discussões de mais destaque?

James Green: Foi um congresso altamente interdisciplinar, com painéis abrangendo todas as disciplinas das ciências sociais e humanas. Chamou minha atenção, este ano, a discussão sobre raça, identidade e ação afirmativa, que certamente reflete uma realidade do Brasil. Há um debate ao longo dos últimos dez anos sobre esse assunto, intensificado por mudanças nos últimos dois, como a intervenção militar nas favelas e o assassinato da vereadora Marielle Franco que gerou um impacto muito forte nos americanos que acompanham o Brasil. Quem se interessa pelo Brasil tem muita preocupação com o futuro do país e o que vai acontecer nos próximos momentos.

Brasil e Estados Unidos estão passando por períodos difíceis, cada um de seu modo, então queremos reforçar a nossa necessidade de apoio nacional e internacional para enfrentar esse momento. Ter esses laços internacionais é importante para fomentar as oportunidades de cooperação.

Em termos de pesquisa, o mais importante do congresso BRASA, a meu ver, é ser um espaço aconchegante, onde as pessoas podem interagir com quem já tinham colaboração, muitas vezes apenas remota, e conhecer novos colaboradores. Eu mesmo fechei três projetos durante o encontro.


A professora Renata Souza conduziu homenagem à vereadora Marielle Franco - foto: Antonio Albuquerque, Núcleo de Memória


Ascom/Vrac: Que projetos?

James Green: Eu tenho um projeto Opening Archived, em que digitalizamos documentos do Departamento de Estado sobre o Brasil durante a ditadura militar – já digitalizamos e indexamos 30 mil documentos; negociei a ampliação da pesquisa para três novos temas: as Forças Armadas brasileiras no olhar dos americanos; a influência norte-americana nos sindicatos brasileiros – este com a professora Larissa Corrêa, do Departamento de História da PUC-Rio; e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Ascom/Vrac: Como surgiu a Brazilian Studies Association e como vem se desenvolvendo?

James Green: A BRASA foi fundada em 1992, por um grupo de pesquisadores dissidentes da Latin American Association (LASA), que acreditava que o Brasil estava marginalizado dentro do programa. Os professores Jon Tolman, da University of New México, e Roberto Reis, da University of Minnesota, criaram a nova associação cujo primeiro congresso foi realizado em Atlanta, o segundo em Minnesota, o terceiro em Cambridge, o quarto congresso em Washington - quando fui chamado para participar do comitê executivo -, e aqui estamos no décimo quarto.

Ao ingressar no comitê, dei início a um processo de transformação da organização. Fui eleito vice-presidente para depois ser presidente – há um sistema de formar as pessoas ao longo dos anos - e, atualmente, sou diretor executivo.

O sexto congresso da BRASA foi realizado na PUC-Rio, também com muito sucesso, na ocasião em que a associação estava se afirmando como uma nova organização. Hoje, a BRASA tem uma estabilidade administrativa e financeira muito sólida. Desenvolvemos uma maneira especial de organizar nossos congressos para que possamos sempre fazer uma intervenção acadêmico-política nos locais em que são feitos os encontros. Não foi por acaso que, para a plenária geral sobre o futuro dos estudos brasileiros, convidamos três mulheres negras: Gladys Mitchell-Walthour, da University of Wiscosin Milwaukee, vice-presidente da Brasa; Marcia Lima, professora da USP, e Renata Souza, ex-aluna de Comunicação Social da PUC-Rio e ex-chefe de gabinete da vereadora Marielle Franco.


Green durante sua apresentação na sessão plenária O Futuro dos Estudos Brasileiros: a mesa, a professora Gladys Mitchell-Walthour, da University of Wisconsin-Milwaukee, e vice-presidente da BRASA, a professora Márcia Lima, da Universidade de São Paulo, e a professora Renata Souza, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - foto: Antonio Albuquerque, Núcleo de Memória


Esse é um exemplo de como estamos querendo modificar o perfil dos estudos brasileiros, nos Estados Unidos e aqui, sendo cada vez mais inclusivos e abertos à diversidade. É uma organização que está tendo reconhecimento nesse sentido.

Nosso próximo congresso será realizado em Austin, Texas, em 2020. Em 2022, vamos comemorar 30 anos em Washington.




Publicada em: 06/08/2018