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Vice-reitoria para Assuntos Acadêmicos

Prêmios e Destaques Acadêmicos

Por Renata Ratton Assessora de Comunicação - Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos
Ex-aluno da Química, doutor por Oxford, atualmente em pós-doutorado pela Universidade da Califórnia, São Francisco, Wilian Cortopassi é homenageado no especial "Inspiração", da Rede Globo, que reconhece a trajetória de brasileiros transformadores
Com uso de realidade virtual, Wilian procura entender mecanismos celulares que podem resultar em doenças como câncer e Alzheimer – este estudo, em particular, com patrocínio da fundação de Paul Allen, co-fundador da Microsoft
Vídeo: Rede Globo de Televisão


O ex-aluno de graduação do Departamento de Química Wilian Cortopassi tem apenas 27 anos, mas cursa, hoje, pós-doutorado na Universidade da Califórnia, São Francisco. Parece, e é, muito, mas está longe de ser ‘só isso’: Wilian é um conceituado pesquisador da área de química medicinal, no cenário internacional, e um dos homenageados do especial Inspiração, promovido pelo programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo, que foi ao ar, na emissora, no último dia 7 (https://globoplay.globo.com/v/6642451/). O especial reconhece a trajetória de brasileiros transformadores. Em 2013, ainda aluno da PUC-Rio, Wilian já havia recebido o Prêmio Jovens Inspiradores 2013, promovido pela editora Abril e a Fundação Estudar.

A vontade de buscar uma cura para o câncer, doença que o privou do pai precocemente, e o interesse científico, descoberto ainda nos bancos escolares - aos 16 anos, integrou a equipe da professora Antoniana Ursine Krettli, do Instituto René Rachou, dedicado ao estudo da Malária, ingressando, em seguida, em uma iniciação científica júnior na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – criaram a fórmula perfeita para a escolha, pela química, do mineiro natural de Contagem. Inicialmente inclinado a cursar medicina, Willian redirecionou seu foco para as ciências químicas e farmacêuticas, após a lida diária em ambiente hospitalar. “Uma forma que encontrei de trabalhar com a medicina, sem necessariamente ser médico”, observou, em vídeo gravado para o especial.

No vídeo, Wilian se apresenta como um “pesquisador apaixonado por fazer a diferença no mundo, usando matérias, disciplinas muito fortes como a química, a física e a biologia para desenvolver novos tratamentos para doenças como o câncer, o Alzheimer, e outras de grande impacto”.

Ele está fazendo. Em entrevista à Assessoria de Comunicação da Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos, Wilian Cortopassi fala sobre seu caminho acadêmico e científico, suas pesquisas e seus planos para o futuro. Um futuro que, a essa altura, não parece ser apenas dele, mas de toda a humanidade.


Assessoria de Comunicação/ VRAC - Como foi sua experiência na graduação em química da PUC-Rio? Sua monografia já foi direcionada para o tratamento do câncer?

Wilian Cortopassi – Ingressei na PUC-Rio de transferência, após primeiro contato com o professor André Pimentel, do Departamento de Química, à época coordenador do curso de graduação, que me apresentou o curso de Química da PUC-Rio. Turmas reduzidas, oportunidade de fazer iniciação científica no começo da graduação, contato direto com pesquisadores e pesquisas de excelência. Não tive dúvidas de que queria ir para lá - e foi provavelmente uma das melhores decisões que tomei.

Tive muitas oportunidades para pesquisa - foi ótimo! Era justamente o foco que eu queria dar para a minha graduação. Fiz pesquisas em química computacional com o professor André, estudando como medicamentos que já foram aprovados para outras doenças poderiam ter alguma atividade contra alguns casos de câncer. A ideia se inspira no fato de que várias moléculas podem ter múltiplos mecanismos de ação, alguns deles desconhecidos. Foi um estudo pioneiro, sugerindo que fármacos como o anti-inflamatório e analgésico antrafenine, assim como o saprisartan, usado contra hipertensão, poderiam estar correlacionados com a atividade da proteína HER2. Mutações relacionadas a essa proteína estão presentes em vários tipos de câncer, como de mama e pulmão. O estudo teórico foi publicado em uma revista internacional referência em simulações computacionais, mas esses modelos ainda precisam ser aperfeiçoados e testados com ensaios experimentais. Ainda uso a técnica desse trabalho, chamada "ancoramento molecular", nas minhas pesquisas na Universidade da Califórnia. Essa metodologia permite prever como moléculas se ligam a proteínas, e é uma das bases da maioria dos programas de química medicinal de excelência ao redor do mundo (https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/08927022.2012.696113).


Wilian Cortopassi, à direita, com seu grupo de pesquisas na Universidade da Califórnia, na sala de realidade virtual - arquivo pessoal


Ascom/ VRAC - Como se deu a continuação das pesquisas? Como surgiu a ideia de trabalhar utilizando realidade virtual para análise da mutação celular, em sua pós-graduação?

W.C. - Fui da graduação direto para o doutorado na Inglaterra, em Oxford. Durante a graduação, contei com o apoio do professor André, na época meu orientador de iniciação científica, para participar de um processo seletivo para um estágio na Inglaterra, na GlaxoSmithKline (GSK), uma das maiores empresas farmacêuticas do mundo. Fui um dos vinte escolhidos e tive a oportunidade de aprender o processo de descoberta e desenvolvimento de medicamentos em um país com décadas de experiência nesse assunto. Me apaixonei ainda mais pela área e apliquei para o doutorado - foi uma surpresa bem legal descobrir que tinha sido aprovado. Passei também na Universidade de Nottingham, outra universidade inglesa com bastante tradição em química medicinal, mas o sonho era Oxford.

Terminei meu doutorado em Oxford ano passado, após três anos bem intensos. Comecei então meu pós-doutorado na Universidade da Califórnia, em São Francisco (UCSF). A UCSF é pioneira do desenvolvimento e uso de técnicas de visualização de proteínas, e, mais recentemente, trabalham para adaptar realidade virtual ao contexto de novos medicamentos. Hoje, trabalho junto com esse time da UCSF para analisar mutações em proteínas e o papel delas em vários tipos de câncer. Em um caso recente, uma médica pesquisadora veio até o nosso grupo tentando entender o papel de algumas mutações em uma proteína quinase de grande relevância para vários tipos de câncer. Fomos para a sala de realidade virtual, colocamos os óculos e fomos para dentro da proteína. A gente consegue andar pela proteína e ver como as mutações afetam a sua estrutura - é fascinante. A partir dessas mudanças estruturais, conseguimos propor modelos que podem servir de base para explicar a resistência a medicamentos recentemente aprovados para o mercado. Esse estudo será submetido em breve para uma revista internacional referência em câncer.


Quais são seus projetos? E como vê a questão da educação básica no Brasil, preocupação refletida em entrevista quando da sua homenagem no especial Inspiração?

W.C. - Hoje tenho dois projetos principais - e nos dois eu uso realidade virtual para entender os mecanismos que acontecem nas nossas células que podem resultar em uma doença. Um deles é sobre mutações que podem ser encontradas em pacientes com câncer e tem um papel fundamental na decisão do tratamento a ser adotado. O outro é sobre o entendimento da doença de Alzheimer, onde tento compreender como as proteínas progranulinas interagem com proteases nas células cerebrais, e como essas interações resultam em doenças neurodegenerativas. O interessante é que esse projeto tem o suporte da fundação pertencente ao co-fundador da Microsoft, Paul Allen, e foi considerado pela mídia americana como uma das ideias mais loucas já financiadas por eles: https://www.seattletimes.com/seattle-news/science/paul-allen-funds-crazy-ideas-to-fight-alzheimers-disease/.

Também mantenho colaborações com o professor André Pimentel. Recentemente, trabalhamos com o laboratório Rene-Rachou (Fiocruz - BH), da Professora Antoniana Krettli, onde estudamos alguns medicamentos que podem servir de base para tratamentos mais eficazes contra casos resistentes de malária - uma doença bem comum na região norte do Brasil, especialmente no Amazonas. O estudo está em fase de submissão em uma revista internacional referência em doenças tropicais.

Acho a educação básica uma prioridade de investimento, com um poder gigantesco de transformação. Não podemos falar de ciência se os jovens no Brasil não tiveram educação básica de qualidade - a maioria não deve ter ido a um laboratório de química, então fica difícil se apaixonar pela ciência.


Com a caneca e o cartão na mão, comemorando sua aprovação após defesa de tese na Universidade de Oxford em jantar formal, tradicional naquela instituição - arquivo pessoal



Publicada em: 11/04/2018