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Vice-reitoria para Assuntos Acadêmicos

Prêmios e Destaques Acadêmicos

Por Renata Ratton Assessora de Comunicação - Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos
Como manda o figurino
Dissertação de mestrado da Comunicação Social, que investiga papel das cartilhas ilustradas no processo civilizador da sociedade, recebe Troféu HQ Mix 2017


Miguel Mendes fala durante a premiação - crédito: Mariela Reis

Tudo o que o cidadão deve saber: as cartilhas e o processo civilizador, dissertação de mestrado do hoje aluno de doutorado em Comunicação Social Miguel Mendes, ganhou o prêmio Melhor Dissertação de Mestrado sobre Quadrinhos, na 29ª edição do Troféu HQ Mix 2017, conhecido no meio como uma espécie de Oscar dos quadrinhos.

Orientada pela professora Tatiana Siciliano, a dissertação, defendida na Universidade, descreve as cartilhas ilustradas de propaganda e campanhas públicas como um gênero de discurso, a partir dos depoimentos de cartunistas e patrocinadores de cartilhas.

Após categorizar 300 cartilhas e estudar mais detidamente dois conjuntos selecionados – um sobre hábitos de saúde e outro sobre hábitos de consumo –, a pesquisa associou essa produção midiática quase despercebida ao processo civilizador e à subjetivação do indivíduo moderno enquanto consumidor e cidadão. Também foi investigado o sentido da participação dos cartunistas na maioria das cartilhas, com a conclusão de que exercem papel de mediadores entre o discurso técnico e científico civilizador e o discurso do senso comum cotidiano.

Graduado em jornalismo pela PUC-Rio, Miguel Mendes falou à Assessoria de Comunicação da Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos sobre a pesquisa e o prêmio.

Assessoria de Comunicação/VRAC - Qual foi a motivação de desenvolver um estudo sobre as cartilhas de propaganda e campanhas públicas em sua dissertação de mestrado?

Miguel Mendes: Eu queria escolher um objeto de estudo que conciliasse meu trabalho de cartunista com o campo da comunicação. É um objeto em que eu estaria intimamente envolvido. O ponto positivo, eu pensei, seria que, assim, eu poderia dar a melhor contribuição possível para o campo de estudos. Além do mais, fazer a pesquisa sobre cartilhas seria refletir sobre anos de trabalho e, ao mesmo tempo, torna-lo mais conhecido.


Prêmio recebido - crédito Miguel Mendes

Ascom/VRAC - O que você chama de processo civilizador? Há uma crítica ao modelo?

M.M. - Processo civilizador é uma ideia que ocorre a muitos autores, mas foi o sociólogo Norbert Elias – muito lido no departamento de comunicação – que melhor o descreveu. Foi um dos autores fundamentais no meu estudo. Nossa sociedade trabalha, por diversos meios – entre eles, a produção midiática – para transformar o comportamento de todos no sentido de parecermos mais urbanos, mais civilizados, mais higiênicos, mais disciplinados e menos rústicos, bárbaros ou pueris. É um processo de muito longa duração e, por isso, normalmente não nos damos conta de que diferenças há entre o comportamento socialmente esperado hoje e o esperado há duzentos ou trezentos anos. As cartilhas me pareceram manuais de etiqueta, usando de persuasão para pedir a adesão dos leitores a um comportamento mais civilizado em vários campos. A conclusão é que esse processo tem consequências negativas que não se separam das positivas, mas a sociedade realmente faz uma opção decidida por fazer o processo andar.

Ascom/VRAC - Por que você acredita que seu trabalho foi escolhido, qual a relevância ao universo dos quadrinhos? E como foi receber esse prêmio?

M.M. - Acredito que todos os cartunistas gostam de saber que o trabalho deles ganhou visibilidade no mundo acadêmico. Embora eu não tenha sido o primeiro a escrever sobre a produção de cartilhas em quadrinhos, fui o primeiro a fazer um trabalho sistemático que indicou um papel importante para esse gênero de publicação. Para mim, que sempre estive na pequena indústria de quadrinhos brasileira, o troféu HQMix vem como recompensa por ter me mantido percorrendo esse caminho.

Ascom/VRAC - O assunto encontra desdobramento em sua tese ou agora trabalha em algo totalmente novo?

M.M. - Mudei de objeto para melhor dialogar com outros pesquisadores, mas o estudo sobre cartilhas realmente ainda renderá muitos artigos. No doutorado, vou estudar uma publicação periódica que foi muito importante para os cartunistas do Brasil, mas que não se restringe a isso: o Tico-Tico. Foi um semanário para crianças que teve seu auge entre 1905 e 1930. Os editores buscavam entreter e educar, o que nos traz de volta o tema do processo civilizador, num período-chave da história do Brasil.


Troféu se baseia nos personagens chopeniks, desenhados
por Jaguar nas páginas do Pasquim - crédito: divulgação HQ Mix



Sobre o Troféu HQ Mix:

O Troféu HQ Mix é da comunidade brasileira de artistas, divulgadores e editores de quadrinhos. É preciso inscrever as obras no prêmio. Uma comissão seleciona os finalistas em cada categoria e a comunidade vota para escolher os vencedores (é preciso estar cadastrado como artista, pesquisador, divulgador ou editor para votar). Os trabalhos acadêmicos, no entanto, são escolhidos por uma banca de professores especializados nessa área.


Mais sobre os trabalhos de Miguel Mendes Reis:

Instagram: migmendesreis | twitter: @Migmegaterio
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Publicada em: 06/10/2017