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Pesquisa, Desenvolvimento e Extensão

Por Renata Ratton Assessora de Comunicação - Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos
Uma mulher fantástica

Pesquisadora da Informática e cientista do mundo, Clarisse Sieckenius protagonizou quadro Mulheres Fantásticas, exibido na atração dominical da Rede Globo

Como Dez de Espadas, no baralho criado na homenagem do projeto Notable Women in Computing, da Duke University, Clarisse figura ao lado de cientistas como Ada Lovelace - Foto: O Globo - 08/03/2015


Ela está entre as 54 mulheres cientistas mais influentes de todos os tempos, reconhecimento de instituto americano voltado à valorização do papel da mulher na tecnologia. E, no último domingo, foi a protagonista da estreia de Mulheres Fantásticas, quadro do programa Fantástico, da Rede Globo.

Ela é mulher, ela é notável, ela é emérita da PUC-Rio, ela é Clarisse Sieckenius, graduada em Letras, pioneira na pesquisa em Interação Humano-Computador, e a expressão do conceito de interdisciplinaridade.

– Eu sempre quis estudar línguas. Quando era garota, amava ser intérprete de conferências; encantei-me pela computação quando fui fazer um curso de especialização para intérpretes em Washington, EUA. Parte do curso era visitar o programa de tradução automática da Organização Pan-americana de Saúde. Foi aí que começou minha grande paixão, revelou ao proograma.

Clarisse Sieckenius no quadro Mulheres Fantásticas - Fantástico - 03/01/2021

Para ela, IHC é um diálogo silencioso entre as pessoas que fazem os programas, as que utilizam os programas, as que comercializam os softwares, e as pessoas que são afetadas pelo seu uso. “A computação, na realidade, está no meio da sociedade. Nós nos comunicamos com essas pessoas, só que numa linguagem cheia de menus”, ponderou. 

“É uma honra imensa termos a Clarisse em nossos quadros”, declara Markus Endler, diretor da Informática, explicando que a IHC pode abordar desde a parte mais técnica até as questões mais sensíveis, críticas, como a ética no desenvolvimento dos softwares.

– Há questões mais específicas da tecnologia, como o desenho, a concepção de novas formas de interação; nos smartphones, por exemplo, arrastar dois dedos faz ampliar uma foto. Isto foi criado por projetistas de interação que procuram tornar os programas mais agradáveis ao uso. Clarisse olha para este uso de forma holística buscando entender como a tecnologia está influenciando e impactando a nossa sociedade, explica.

Entre esses impactos, segundo o diretor, podem estar discrepâncias relacionadas a análises de crédito bancário, que prejudicam alguns e beneficiam outros clientes... Ou em algoritmos que, por motivos comerciais, só mostram ao usuário o que ele quer ver, alimentando sempre a mesma visão, em vez de levá-lo a enxergar opiniões diferentes.

– Dentro de IHC, Clarisse criou a teoria da Engenharia Semiótica como alternativa para explicar e fundamentar a inserção de IHC na Ciência da Computação. Coordena, ainda, o SERG – Semiotic Engineering Research Group. Agora, quer se instrumentalizar para entender as questões éticas que dizem respeito a empresas e programadores, comenta Endler, acrescentando que, na Informática, um grupo de professores também se reúne, periodicamente, para discutir a ética profissional na qualidade de orientadores, professores e captadores de projetos.

Para se debruçar nas questões éticas em produção, uso e comercialização dos softwares, Clarisse Sieckenius aproximou-se do Departamento de Filosofia da PUC-Rio frequentando a disciplina de extensão Ciência e Contemporaneidade.

– Me aposentei como professora titular em janeiro de 2020, e, a partir de então, tenho o título de professora emérita da PUC-Rio. Meu plano de trabalho independente, nesta fase, é me dedicar totalmente a uma pesquisa interdisciplinar, na fronteira da Informática com a Filosofia, da tecnologia e a ética. Meu grande parceiro para este plano é o professor Edgar Lyra, do Departamento de Filosofia. Fora isto, continuarei co-orientando alunos ou trabalhando com colegas da informática nas linhas de explicabilidade e interpretabilidade para inteligência artificial. Também pretendo acompanhar (para aprender) o trabalho de colegas da UFMT e UFC, que vão usar a nossa teoria e métodos de Engenharia Semiótica em pesquisa sobre arte digital, conta a pesquisadora, cujo sentimento e pensamento sobre a Interação Humano-Computador e a ética para com os corações por trás das máquinas talvez possam ser resumidos na última fala ao Fantástico:

“A esperança que temos com a tecnologia é de que ela corrija, inclusive, alguns erros civilizatórios; mas somos nós que fazemos a computação, então só vamos conseguir corrigir o que corrigirmos em nós mesmos”.

Clarisse, na Universidade de Stanford, em 1991, quando realizava seu pós-doutorado com o professor de renome internacional Terry Winograd (com o braço apoiado no monitor) - Foto: arquivo pessoal



Publicada em: 07/01/2021