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Vice-reitoria para Assuntos Acadêmicos

Pesquisa, Desenvolvimento e Extensão

Por Renata Ratton Assessora de Comunicação - Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos
O futuro da educação em pauta

Diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna e membro do Conselho Nacional de Educação, Mozart Neves Ramos foi palestrante convidado do II Fórum de Debates das Licenciaturas da PUC-Rio

Mozart Neves Ramos foi o convidado do II Fórum de Debates das Licenciaturas da PUC-Rio; na mesa de abertura, a partir da esquerda: Vice-Reitor para Assuntos de Desenvolvimento, Sergio Bruni; Vice-Reitor para Assuntos Acadêmicos, José Ricardo Bergmann; Coordenadora de Licenciaturas da PUC-Rio, Maria Rita Passeri Salomão; Vice-Reitor da PUC-Rio, pe. Álvaro Mendonça, S.J.; Secretário de Educação do Estado do Rio de Janeiro, Pedro Fernandes, e Coordenadora Central de Graduação, Daniela Vargas - Fotos: Antonio Albuquerque / Núcleo de Memória


“A primeira coisa que um professor deve ter é alegria pela possibilidade de transformar a vida de uma pessoa. Uma aula muda a vida de uma pessoa”. A fala deu o tom do que seria a palestra do professor Mozart Neves Ramos, convidado da Universidade para o II Fórum de Debates das Licenciaturas da PUC-Rio, realizado no último dia 25, que, hoje, orquestra as novas diretrizes para a formação de professores como relator da Resolução 02/2015 do Conselho Nacional de Educação (CNE).

Dono de currículo invejável, o Diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna, Conselheiro da Câmara de Educação Básica do Conselho é, antes de tudo, um apaixonado pelo magistério. Pesquisador de renome internacional, na área da Química, Mozart Ramos foi reitor e pró-reitor da Universidade Federal de Pernambuco e secretário de educação daquele estado, razão pela qual teve a oportunidade de estar dos dois lados da história. “Como secretário, vi uma face da moeda que, como pesquisador, não conseguia enxergar, mas nunca deixei a sala de aula e dediquei os últimos 16 anos na UFPE a ensinar nas licenciaturas e a dar aula na primeira disciplina das turmas de egressos. Sempre tive um enorme prazer de dar aula”.

O Vice-Reitor da PUC-Rio, pe. Álvaro Mendonça, S.J., durante a abertura do encontro - Foto: Antonio Albuquerque / Núcleo de Memória

Para Mozart, a oferta da educação básica é um dever do estado e da família, mas precisa ser promovida e incentivada em colaboração com a sociedade, que tem o papel de blindá-la das descontinuidades das políticas públicas. No tocante à Resolução 02/15, tema da palestra, mencionou quatro eixos que conduziriam sua fala: De qual cenário se está falando; para qual cenário se está preparando alunos e professores; de qual educação se está falando e se a resolução responde a todas as questões colocadas.

– O mundo do trabalho passa por uma mudança profunda. Segundo relatório da McKinsey, o impacto proveniente da automação, a quarta revolução – o Brasil, no meu entendimento, está ainda na segunda, enquanto o Japão já está na quinta – vai resultar numa mudança brutal na força de trabalho, na natureza e no impacto dessa força de trabalho. No Brasil, a expectativa é de que cerca de 16 milhões de brasileiros sejam, de alguma forma, atingidos por essa mudança. Portanto, é preciso formar gente para essa dinamicidade, para essas descontinuidades tecnológicas que vivemos. Se estivermos formando gente e olhando no retrovisor, para o que era o mundo do trabalho na nossa época, vamos estar fazendo o exercício equivocado. É preciso pensar para que mundo vamos formar essas pessoas. E não é para o presente, presente é o passado do futuro, alertou. Em seguida, apresentou um estudo americano, de 2006, que descrevia o que seria esperado dos jovens nos empregos do século XXI.

É preciso pensar para que mundo vamos formar essas pessoas. E não é para o presente, presente é o passado do futuro

– Habilidades clássicas tradicionais como a linguagem, a escrita em inglês, a matemática, a língua estrangeira, a compreensão em leitura, que, no passado, eram pontos de chegada, hoje são pontos de partida. Quem não as dominar, não entra nem no jogo. Com as habilidades clássicas dominadas, novas necessidades se apresentam, como o pensamento crítico, a liderança, o trabalho em equipe, a criatividade e a inovação, a tecnologia da informação aplicada, a responsabilidade social, a ética no trabalho. Não se trata de tecnologia. Para mim, tecnologia também é ponto de partida. O que vai diferenciar as pessoas são qualidades humanas. As qualidades humanas potencializadas nas pessoas é que serão o grande diferencial para o mundo futuro e atual.

No entendimento do professor, a educação deve combinar os aspectos cognitivos com os socioemocionais de uma maneira intencional no ambiente escolar, na maneira como se trabalha a sala de aula. “É um novo ambiente de ensino-aprendizagem onde a pesquisa, o pensamento crítico e a criatividade assumem lugar de destaque. Temos que ter coragem de romper com a sala de aula tradicional. O professor tem que ir além do que já está na internet e fazer da aula um espaço de interação, de integração, de criação”. Na visão do relator, a resolução 02/15 tem que ser capaz de provocar essa mudança na relação de ensino – aprendizagem, principalmente no compromisso de tornar a aula altamente motivadora para os alunos.

Habilidades clássicas tradicionais como a linguagem, a escrita em inglês, a matemática, a língua estrangeira, a compreensão em leitura, que, no passado, eram pontos de chegada, hoje são pontos de partida

– É para isso que somos professores, para motivar os alunos a gostar do que ensinamos e gerar mudanças. É para que saiam encantados e pensando que querem aquilo para suas vidas. O desenvolvimento dessas novas habilidades deverá estar presente no ambiente escolar. Por isso a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) colocou dez competências que são muito importantes, e o ensino básico está fazendo um esforço muito grande para mudar.

Mozart afirmou ser esse também, e principalmente, um problema do ensino superior, frisando que a universidade tem que ser um fio condutor e não esperar que a educação básica provoque a mudança nela. “Se a universidade continuar com o chamado ciclo geral, sem dialogar com essas novas habilidades – porque, de alguma maneira, será necessário preparar professor para receber os alunos egressos da educação básica com essas novas competências – vai encontrar muitas dificuldades”.

Por outro lado, segundo ele, se a universidade não atuar na qualidade do ensino básico, ficará no eterno dilema de qual nível de exigência deverá ter para com seus alunos. E vai precisar realizar uma transição para não perder esses alunos.

Integrantes de 78 instituições se inscreveram para assistir à palestra do professor Mozart - Foto: Antonio Albuquerque / Núcleo de Memória

Citando o livro Empowered Educators, da americana Linda Darling-Hammond, o professor comentou quatro características necessárias à formação de professores para uma aprendizagem plena: o estabelecimento de uma visão centrada no aluno – guiando um conjunto coerente de cursos e trabalhos clínicos que o aproxime do especialista; a criação de oportunidades para os professores aprenderem como ensinar conteúdos que promovam a pesquisa – criando comunidades em sala de aula que apoiem a aprendizagem social e emocional, bem como a acadêmica; a elaboração de um currículo focado na aprendizagem e no desenvolvimento das crianças e jovens em diversos contextos sociais e familiares; e a implementação de escolas de práticas profissionais (residências docentes).

O que vai diferenciar as pessoas são qualidades humanas. As qualidades humanas potencializadas nas pessoas é que serão o grande diferencial para o mundo futuro e atual

– Países mais avançados já utilizam uma plataforma adaptativa, associada à inteligência artificial, capaz de gerar relatórios para que professores possam acompanhar aluno por aluno quanto aos objetivos da aprendizagem. Isso os ajuda a compreender o fluxo de desenvolvimento discente, evitando a reprovação. A gente não mede o que significa ter um aluno que ficou para trás. O fracasso escolar ou o fracasso universitário é a pior coisa para uma criança, um adolescente ou um jovem. E prosseguiu:

– A pesquisa é a vontade de empurrar para a frente a fronteira do conhecimento e também o compartilhamento desse conhecimento. Nisso, a tecnologia pode ajudar, por exemplo, com grupos de discussão, e o professor deve ter humildade para aprender com seus alunos. A resolução, por sua vez, tem que olhar para isso tudo, para como esses jovens alunos vão querer aprender. O jovem quer uma escola que caiba em sua vida. Temos que saber de que mundo estamos falando. O currículo focado na aprendizagem e no desenvolvimento em diversos contextos sociais e familiares é muito importante para ampliar o conceito da sala de aula. Em relação às escolas de práticas profissionais, devemos buscar a certificação de escolas como residências docentes de fato. Professores do ensino básico frequentemente se sentem intimidados com o estagiário que vem de uma boa universidade para trabalhar com a disciplina em que se especializou. Temos que criar esses ambientes.

O professor Mozart concluiu sua palestra apresentando um panorama da Resolução 02/15, e comentando-a capítulo a capítulo. Entre as principais considerações, mencionou a necessidade do acompanhamento dos egressos pelas universidades: “A gente perde uma conexão que poderia estar sendo extremamente útil como feedback inclusive das reformas curriculares”.

A gente não mede o que significa ter um aluno que ficou para trás. O fracasso escolar ou o fracasso universitário é a pior coisa para uma criança, um adolescente ou um jovem

Criticando a falta de apoio e o preconceito sofridos pelos docentes que se dedicam apenas a cuidar da educação básica, Mozart chamou a atenção sobre a importância de se pensar em institutos para a formação de professores, articulados com um instituto nacional.

– Há pesquisadores que querem cuidar da educação básica. E há professores inspiradores nas escolas que poderiam servir como pontes doando seu tempo para falar aos futuros professores. Seria muito importante, ainda, contar com a figura de um professor-visitante não apenas para a pesquisa, mas para trazer novas tecnologias, metodologias”.

Mais de 70 instituições se inscreveram para ouvir o professor Mozart Ramos. “Seu labor intenso pela educação no país é reconhecido não só no Brasil, mas internacionalmente. Fato justo, seu histórico mostra um percurso, uma dedicação, uma entrega à causa da educação”, elogiou o Vice-Reitor da PUC-Rio, pe. Álvaro Mendonça, S.J., destacando que, para a Universidade, é uma satisfação contribuir para a formação inicial e continuada dos professores do ensino básico.

A Coordenadora Central de Licenciaturas da PUC-Rio, professora Maria Rita Passeri Salomão, abordou as diversas ações voltadas para a formação de professores na Universidade - Foto: Antonio Albuquerque / Núcleo de Memória

– Na missão cristã e humanista que temos, a educação não se restringe ao ensino, a educação é um acontecimento relacional, está ligada a todo o universo de relações como a família, o trabalho, a política, o meio ambiente. Então, quem se forma para o ensino deve mirar essa missão como um evento de relações. Como cristãos e humanistas, somos, eminentemente, seres relacionais. A sociedade, em nossa concepção, é uma construção de justiça visando ao bem comum. Temos um projeto de uma civilização e vamos nos manter fiéis a ele. Por isso, a PUC-Rio prima pelo ensino livre, autônomo e comprometido e pela formação de professores para o ensino básico, tão importante para o futuro do nosso país.

O jovem quer uma escola que caiba em sua vida

O Secretário de Educação do estado, Pedro Fernandes, também presente ao fórum, lamentou o momento difícil vivido no estado.

– É muito importante termos a oportunidade de avançar na formação continuada de professores e é necessário focar na necessidade de atualização e melhoria das dinâmicas, a fim de que possamos ter a oportunidade de adequar o ensino às novas tecnologias, às novas modalidades. Além de ensinar, nosso propósito é fazer todo um trabalho de parceria com nossas universidades, para que também nos ajudem a retomar o enfoque no conteúdo básico para os nossos profissionais e a melhorar o ensino da rede pública de educação.

A Coordenadora de Licenciaturas da PUC-Rio, professora Maria Rita Passeri Salomão, frisou que, na Universidade, a preocupação com a formação do professor tem proporcionado um elo entre o conteúdo e o fazer pedagógico na sala de aula, além de estabelecer uma ponte com as unidades escolares públicas e privadas de ensino, onde os alunos têm a oportunidade de realizar as práticas de ensino e os estágios curriculares obrigatórios, em contato com o cotidiano da sala de aula e da unidade escolar.

– Nesse sentido, a PUC-Rio mantém convênios com as secretarias Municipal e Estadual de Educação, com as escolas federais, com o Instituto Superior de Educação Pró Saber, com o Colégio Teresiano (de aplicação da PUC-Rio) e com cerca de mais 40 unidades escolares da rede privada do Rio de janeiro.

Vídeo da palestra na íntegra:Player Youtube     Download (4,1Gb)




Publicada em: 04/07/2019