Vice-reitoria para Assuntos Acadêmicos

Guelba Paiva recebe Archiprix Award, prêmio mais importante para graduados em Arquitetura e Urbanismo no mundo - Foto: arquivo pessoal

Anos atrás, numa história que ainda se repete, o pai da arquiteta Guelba Paiva deixou sua terra natal, no interior do Ceará, para fugir da seca. Mas a mudança de rumo mudou sua história e, dessa vez, a seca deu frutos. Com o projeto Paisagem Infraestrutural e Regeneração Ecossistêmica, a ex-aluna da PUC-Rio é uma das vencedoras do prêmio Archiprix International/ Hunter Douglas Awards 2019.

Elaborado como monografia para o curso de Arquitetura e Urbanismo, o projeto – que busca compreender a natureza do ambiente e promover as condições de vida da população do município de Santa Quitéria, no Ceará – foi um dos sete selecionados por um júri internacional. Concorreu com 321 projetos de 81 países e, entre os vencedores, é o único representante da América Latina.

Rio dos Macacos: Verão e Inverno

– Fiquei muito feliz com a premiação. É a maior premiação de graduação de Arquitetura e Urbanismo do mundo, só acontece a cada dois anos e cada faculdade só pode inscrever um projeto de monografia por vez. A inspiração para esse trabalho veio do meu pai. Ele morou no interior do Ceará, passou fome e precisou sair da sua terra natal por conta da seca. O objetivo desse projeto é realmente poder ajudar as pessoas que vivem na caatinga, mantendo o fluxo de água contínuo ao longo do ano para que as pessoas não precisem sair de lá. Tive um ano para desenvolver o projeto, visitei a caatinga durante diferentes épocas do ano e desenvolvi uma extensa pesquisa antes da etapa do design. Foi muito gratificante ter conseguido chegar a um resultado viável e agora ver o fruto de tanto esforço ganhando visibilidade mundo afora, orgulha-se a arquiteta.

Casa de taipa: Verão e Inverno

Guelba Paiva foi três vezes para o Ceará. Em outubro de 2016, período da seca, em março de 2017, período de chuva e setembro de 2018, outro período de seca. “Nessa última visita, já formada, estava preparando material para o concurso”.

– A metodologia projetual da pesquisa se dividiu em três etapas: off site, período anterior às visitas de campo, com projeto desenvolvido virtualmente fazendo uso de imagens de satélite, EIA/RIMA e artigos publicados; in site, a mais importante, em que realizei a pesquisa in loco, visitando órgãos selecionados (Ematerce, Semace, prefeitura, Cogerh, entre outros), coletando espécies nativas, visitando os pontos de interesse do projeto como o açude Edson Queiroz e as moradias do interior do sertão de Santa Quitéria, onde pude compartilhar do cotidiano dos moradores, filmando a região por drone para a compreensão dos fenômenos da paisagem local; na última etapa, a negociação da realidade concreta e virtual vai se instrumentalizando com a compatibilização de dados, a definição de recortes, a execução e cartografia e os desenhos de estudos preliminares – explica a autora.

Paisagem da Caatinga

De acordo com ela, o trabalho foi fruto de uma pesquisa muito extensa acerca de questões brasileiras que merecem muita atenção.

– O projeto explora o único bioma exclusivamente brasileiro, já desmatado em mais de 50%, e abrange diversas escalas num resultado sistêmico. Proporciona um dispositivo que atende às demandas paisagísticas, infraestruturais e socioeconômicas locais, tangenciando reflexões acerca dos conceitos de identidade, território e resistência, com soluções baseadas na natureza. Por intermédio de sistema de captação solar, com provisão de irrigação do território de Santa Quitéria, interior do Ceará, o objetivo é iniciar e permitir um ciclo que culminará na reconstrução e potencialização total da paisagem ecológica, proporcionando condições para as pessoas.

Regeneração Ecossistêmica: Antes e Depois

Com capacidade de culminar na reconstituição de uma paisagem produtiva, o resultado do projeto propicia que a tectônica da paisagem possa ser trabalhada visando à saída do sazonal para um fluxo contínuo, e, por meio da regeneração, gerar o território fértil, requalificando a vida dos moradores em todos os âmbitos. A alternativa objetiva, além de mitigar os efeitos das mudanças no clima e assegurar o desenvolvimento socioeconômico de forma sustentável, restaurar as zonas desmatadas do bioma caatinga, simultaneamente preservando a cultura e a identidade local.

Regeneração Ecossistêmica: Desenho Síntese

No parecer do júri, o projeto foi qualificado como completo e totalmente viável. “Não é feito para convencer os clientes, mas para o benefício dos habitantes locais", ressaltou a avaliação dos jurados. O trabalho foi orientado pelo professor Marcos Favero, com a co-orientação do professor Pierre Martin – ambos do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Rio (DAU).

Guelba Paiva, hoje gerente de obras na construtora Habitte Engenharia e arquiteta coordenadora no FPR Studio, pretende levar o trabalho adiante:

Infraestrutura de Irrigação

– Me sinto na obrigação de colocá-lo em prática, ao menos tentar. Enfrentei todas as questões projetuais considerando as circunstâncias reais, não é um projeto fictício. É de fato, um projeto viável, estando evidentes todos os impactos positivos em âmbito não só comunitário, mas em escala nacional, pois estamos falando de um bioma que é patrimônio brasileiro. Ao conquistar visibilidade, não vejo motivo para não ser executado.

Sobre o Archiprix:

Espécies Nativas e Cultivos Tradicionais: Sistema Agroflorestal

O Archiprix é um concurso internacional que ocorre a cada dois anos e premia trabalhos finais de graduação. Faculdades de arquitetura, urbanismo, planejamento urbano e paisagismo de todo o mundo são convidadas a participar selecionando e enviando um único projeto de graduação. A cerimônia de premiação foi realizada no dia 3 de maio, em Santiago, no Chile.

Consolidação do Sistema: Faseamento