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Vice-reitoria para Assuntos Acadêmicos

Pesquisa, Desenvolvimento e Extensão

Por Renata Ratton Assessora de Comunicação - Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos
“O Brasil que lê”, projeto do iiLer/Cátedra UNESCO de Leitura com o financiamento do Itaú Cultural, apresenta seus resultados em webinários realizados pelo Instituto

Segundo relatório, programas implementados em anos anteriores, como o PROLER, ainda estimulam planos de acesso à leitura em estados e municípios; e a sociedade civil se desdobra para seguir adiante com suas iniciativas formadoras

A professora Gilda Carvalho, do iiLer - Foto: acervo pessoal


Após quase dois anos de um projeto que nasceu em plena pandemia, O Brasil que lê – desenhado pelo Instituto Itaú Cultural, o Instituto Interdisciplinar de Leitura/Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio, e a JCastilho Consultoria – apresenta seus resultados em dois webinários realizados no canal do Instituto no YouTube.  Os resultados pretendem ajudar na divulgação dos projetos e também na orientação de ações e investimentos no universo da leitura.

Com a coordenação executiva da professora Gilda Carvalho, diretora da Cátedra/iiLer, a pesquisa contou com recursos do Instituto Itaú Cultural e teve como objetivo principal mapear projetos de formação de leitores e promoção da leitura no Brasil, levantando a forma de atuação e gestão e respectivos públicos. O trabalho considerou também informações sobre metodologias e práticas empregadas pelos projetos, perfis de mediadores e formadores de leitores e a utilização de tecnologias de informação e comunicação para a promoção de leitura.

– Como iniciamos os trabalhos em meio à pandemia da Covid-19, a metodologia inicialmente desenhada foi alterada para atender a necessidade de isolamento social. Todo o trabalho foi realizado de forma remota. O lançamento da pesquisa foi divulgado nas mídias sociais e tradicionais, e, além disso, mantivemos contato direto com projetos a partir de bancos de dados específicos mantidos pelo iiLer e por outras instituições da área da leitura, como o Instituto Pró-Livro e a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias, explica Gilda Carvalho.

Clube dos Livres, em Tocantins, projeto com apenados - Foto: divulgação
Álvaro Domingues, criador do projeto Lendo Literatura Brasileira - Foto: acervo pessoal
Biblioteca de Muro - Foto: Jailson Cordeiro
Contadoras de Histórias - Foto: Soraya Pamplona
Casa de Leitura Soraya Pamplona - Foto: Soraya Pamplona
Capitu vem pra jantar, leitura e gastronomia em São Paulo - Foto: divulgação
Capitu vem pra jantar, leitura e gastronomia em São Paulo - Foto: divulgação

Segundo a diretora do iiLer, ao todo, mais de 5 mil projetos e instituições foram contatados. Muitos se encontravam fechados, com atividades interrompidas, outros abalados e desmobilizados tanto pela pandemia, quanto pela falta de incentivo das iniciativas pública e privada para manutenção de suas atividades. “Recebemos cerca de mil respostas, porém, para a composição de uma base de dados sólida e que atendesse os objetivos da pesquisa, foi necessário avalia-las quantitativamente, e, após, delimitar o corpus de projetos analisados em 382”, observa.

A equipe de pesquisa foi composta por oito pesquisadoras de diferentes campos do conhecimento: leitura e literatura, pedagogia, biblioteconomia, gestão e tecnologia da informação e comunicação. A coordenação da pesquisa coube à Denise Ramalho, Dra. em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, contratada especialmente para o trabalho. A JCastilho Consultoria realizou o acompanhamento do trabalho e a interlocução com o Instituto. Sua equipe, que trabalhou todo o tempo em diálogo conosco, foi composta por José Castilho Marques Neto, ex-secretário executivo do PNLL, e pela professora Eliana Yunes, da PUC-Rio.

Os resultados finais do projeto indicam que a experiência do Programa Nacional de Incentivo à Leitura – PROLER, criado em 1992 na Fundação Biblioteca Nacional como tentativa de se implantar uma política de formação de leitores permanente no país, apesar de descontinuada em 1998, foi suficientemente forte para frutificar, com pelo menos duas grandes conquistas: a sua continuidade em ações para a formação de leitores seguiu abraçada por professores e voluntários da sociedade civil e permanece até hoje; e seu exemplo inspirou profundamente a elaboração do Plano Nacional do Livro e Leitura – PNLL, em 2006.

De acordo com Yunes e José Castilho, desde então, principalmente no período de implantação que terminou após quatro anos, em 2010, o PNLL obteve grandes avanços e grandes retrocessos, a exemplo dos programas públicos anteriores. No entanto, seu método de construção garantiu sua permanência enquanto instrumento norteador e motivador para formar leitores, democratizar o acesso à leitura e às bibliotecas, valorizar o livro em todos seus suportes e incentivar a economia do livro em todos os seus elos.

Segundo o relatório, apesar do histórico e notório mal que acompanha as boas políticas públicas implantadas no Brasil, o da descontinuidade, as inspirações de movimentos como o PROLER e o PNLL estão sendo suficientes até hoje para alguns estados e municípios seguirem com seus planos de acesso à leitura, assim como a sociedade civil se desdobra em manter e seguir adiante com suas iniciativas formadoras, ao mesmo tempo em que reivindica do poder executivo federal providências para a retomada de políticas públicas de incentivo à leitura: “Um exemplo dessa determinação de construir e reivindicar é a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias — RNBC, potente organização de formadores de leitores, bibliotecas nascidas nas comunidades periféricas das metrópoles e em rincões diversos do país, que exercem grande relevância nas comunidades em que se instalaram e que se pautam por construção de meios para formar leitores e pela luta pelo direito à leitura e por políticas públicas locais, regionais e nacional, em torno dos eixos do PNLL”, citam os autores.

Em pesquisas paralelas, a Cátedra Unesco de Leitura vem anotando a mobilização pró-leitura que, no interior do país, impacta a vida cultural de municípios, inclusive bem distantes das capitais, a partir do esforço por legalizar e tornar realidade o Brasil leitor que pode sustentar o desenvolvimento pessoal e coletivo preconizados pelo PROLER e pelo PNLL. Para os autores, a força civil dos movimentos pró-leitura nos últimos quarenta anos é o que possibilitou também o avanço da única conquista da política pública de leitura nos últimos seis anos: a instituição da primeira lei que reconhece a leitura como um direito da cidadania e impõe a criação de planos nacionais de livro e leitura decenais, sob princípios igualitários e democráticos. Trata-se da Lei 13.696/2018 que criou a Política Nacional de Leitura e Escrita — PNLE, que tem capacidade jurídica e política de sintetizar e dar força legal à impulsão de programas, ações e projetos com escala de política pública que cabem ao Estado brasileiro assumir e liderar.

“A realidade, neste último ano do atual mandatário, que assumiu o governo federal em 2019, escancara um profundo retrocesso das políticas públicas federais... O resultado desse contexto dificílimo confirma as assertivas preliminares nas iniciativas que foram alcançadas e que vieram compor o corpus da pesquisa: a duras penas, abandonado a empreendimentos da sociedade civil, sem recursos financeiros e sem tecnologia que garanta sua extensão, o Brasil lê”.




Publicada em: 08/03/2022