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Vice-reitoria para Assuntos Acadêmicos

Pesquisa, Desenvolvimento e Extensão

Por Renata Ratton Assessora de Comunicação - Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos
Créditos para a Amazônia

Projeto interinstitucional, que envolve, na PUC-Rio, pesquisadores da Geografia, da Economia e do Núcleo de Avaliação de Políticas Climáticas, possibilita a restauração em áreas priorizadas da Amazônia Legal, com a geração de recursos bilionários

À esquerda: No contexto do projeto Amazônia 2030, o professor Bernardo Strassburg contribuiu com a indicação de áreas prioritárias para restauração que possam maximizar os benefícios para a biodiversidade e mitigação das mudanças climáticas, minimizando os custos - Foto: arquivo pessoal; À direita: O professor Juliano Assunção, da Economia, é um dos coordenadores do projeto Amazônia 2030 - Foto: acervo pessoal


Um estudo sobre a restauração de áreas prioritárias da floresta amazônica – desenvolvido, no âmbito do projeto Amazônia 2030, pelo professor da Geografia e coordenador do Mestrado Profissional em Ciência da Sustentabilidade Bernardo Strassburg, junto aos pesquisadores Paulo Branco e Álvaro Iribarrem  – demonstrou que aproximadamente 2,6 bilhões de toneladas de CO2 podem ser retirados da atmosfera com a restauração otimizada de 10% de áreas degradadas (definidas como prioritárias) distribuídas pela Amazônia, gerando uma receita de R$132 bilhões, que, por sua vez, abririam a possibilidade de outros financiamentos.

– Sabemos que, mais ou menos, metade desse valor seria destinada aos fazendeiros, por custo de restauração, para os locais, e para quem realiza a restauração; mas os outros 50% ainda correspondem a R$ 66 bilhões, que poderiam, por exemplo, ser investidos em políticas públicas para financiar programas de desenvolvimento sustentável, para buscar caminhos mais sustentáveis para o desenvolvimento da própria Amazônia, aponta Strassburg, que também é diretor executivo do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS).

Os resultados do estudo mostraram, entretanto, que a restauração feita de forma isolada, isto é, sem o planejamento de áreas prioritárias, pode não significar, nem de longe, uma boa escolha: “uma pesquisa anterior a nossa mostra que se forem restaurados 10% da Amazônia sem priorização e planejamento, o processo será muito menos eficiente. O custo é até 10 vezes mais efetivo seguindo a priorização", ressalta Strassburg.

Segundo o professor, na hipótese de os gestores decidirem considerando somente o fator custo, ou seja, por onde seria mais barato restaurar – ao invés de considerar fatores como clima ou biodiversidade –, o resultado dessa restauração pode ser oito vezes menor.

O professor Bernardo Strassburg em entrevista ao jornalista André Trigueiro, também professor da PUC-Rio - Jornal Nacional, Rede Globo - 11/02/2022

– Então, com o mesmo trabalho, ao invés de retirar 2,6 bilhões de toneladas de CO2 da atmosfera, considerando as áreas prioritárias, seriam retirados apenas 330 milhões de toneladas. Estamos falando da mesma área, ainda restaurando os 10% do que foi perdido, da mesma dimensão de esforço, mas em locais diferentes por conta da prioridade – esclarece o diretor do IIS.

A recuperação de áreas desmatadas e degradadas é uma prioridade mundial visando à mitigação das mudanças do clima. No Brasil, a meta estabelecida através do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg, 2017) é de recuperar 12 milhões de hectares de vegetação nativa em todos os biomas brasileiros até 2030. Considerando que a Amazônia Legal brasileira ocupa quase 60% do território nacional (IBGE, 2019), a recuperação florestal da região, de acordo com os pesquisadores, precisa ser vista como uma questão, sobretudo, estratégica, tendo em vista as elevadas taxas de desmatamento e o alto potencial de regeneração natural do bioma.

Sobre o estudo – Três critérios foram utilizados para definir as áreas prioritárias para recuperação florestal no Bioma Amazônia: conservação da biodiversidade, com vistas à redução do risco de extinção das espécies ameaçadas e/ou endêmicas da Amazônia; mitigação de mudanças do clima, buscando otimizar o potencial de sequestro de carbono; retorno socioeconômico, com o objetivo de desenvolver a restauração por meio de baixos custos e, ao mesmo tempo, de aumentar a geração de emprego e renda na região. “A ideia, então, é encontrar soluções balanceadas, simultaneamente, entre os três benefícios. É interessante notar que todos os estados Amazônicos possuem regiões de altíssima prioridade para os três critérios, reforçando a mensagem de que todos podem contribuir e se beneficiar de um programa de restauração em larga escala em áreas prioritárias”, sublinha Strassburg.

– O interessante desse estudo é que ele reforça, realça e quantifica o impacto gigantesco que a restauração pode trazer para esses desafios locais e globais, quando feita de forma planejada. Além disso, conseguimos quantificar e mapear e, a partir disso, atuar diretamente nas escolhas que os tomadores de decisão devem ter quando forem restaurar uma área. Isso porque é possível definir os benefícios de cada área, analisar, juntando os fatores, qual é a mais benéfica de ser restaurada. Mapear ajuda demais na tomada de decisão porque transforma algo genérico em concreto. É uma argumentação com dados – defende o pesquisador.

O projeto Amazônia 2030 é co-coordenado pelo professor Juliano Assunção, do Departamento de Economia, e diretor do Núcleo de Avaliação de Políticas Climáticas da PUC-Rio.


Sobre o Amazônia 2030

Como desenvolver a Amazônia, aproveitando de forma sustentável os recursos naturais? Para responder a essa pergunta, quatro reconhecidas organizações de pesquisa brasileiras se juntaram para fazer o mais completo plano de ações para a Amazônia dar um salto de desenvolvimento humano e econômico preservando seus recursos naturais até 2030. Trata-se do projeto Amazônia 2030.

O projeto é uma iniciativa conjunta do Instituto do Homem e do Meio Ambiente, da Amazônia (Imazon) e do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, ambos situados em Belém, com a Climate Policy Initiative (CPI) e o Departamento de Economia da PUC-Rio, localizados no Rio de Janeiro.

Pesquisadores têm gerado conhecimento a partir das experiências dos povos da floresta, empresários, empreendedores e agentes públicos. Esses documentos reunirão recomendações práticas, que poderão ser aplicadas por agentes privados e públicos.




Publicada em: 17/02/2022